Significado de Fumo
A análise teológica de termos bíblicos é um pilar fundamental da fé protestante evangélica, buscando sempre aprofundar a compreensão das Escrituras Sagradas como a inerrante e infalível Palavra de Deus. Contudo, é crucial abordar cada termo com rigor exegético e hermenêutico, distinguindo entre conceitos doutrinários explícitos e fenômenos descritivos ou simbólicos.
O termo "Fumo", no sentido de fumaça, vapor ou névoa, não se apresenta nas Escrituras como um conceito teológico abstrato ou doutrinário em si, como Graça, Justificação ou Redenção. Em vez disso, o Fumo é um fenômeno físico que, ao longo da narrativa bíblica, é consistentemente empregado como um poderoso símbolo e manifestação da presença, poder, juízo, santidade ou até mesmo da transitoriedade divina e humana.
Esta análise teológica, portanto, examinará o Fumo não como uma doutrina isolada, mas como um elemento recorrente na revelação bíblica, cujas aparições e contextos fornecem ricos insights sobre a natureza de Deus, a condição humana e o plano de salvação. Abordaremos as raízes no Antigo Testamento, seu desenvolvimento no Novo Testamento, suas implicações para a teologia paulina, seus diferentes aspectos e, finalmente, sua relevância para a vida prática do crente, sempre sob a perspectiva da teologia protestante evangélica conservadora.
Nosso objetivo é extrair o significado teológico das ocorrências de fumaça, vapor e nuvem nas Escrituras, reconhecendo que, embora o Fumo em si não seja um "termo bíblico" no sentido de uma palavra-chave doutrinária, as realidades que ele simboliza são profundamente enraizadas na teologia bíblica e reformada, enfatizando a autoridade bíblica e a centralidade de Cristo.
1. Etimologia e raízes do Fumo no Antigo Testamento
No Antigo Testamento, a manifestação de Fumo (fumaça, vapor, nuvem) está intrinsecamente ligada à revelação de Deus e aos seus propósitos. As principais palavras hebraicas que descrevem esse fenômeno são ‘ashan (עָשָׁן), referindo-se a fumaça propriamente dita, ‘anan (עָנָן), para nuvem, e qetoret (קְטֹרֶת), para incenso, que produz fumaça.
O uso dessas palavras e seus contextos revelam múltiplas facetas do significado teológico do Fumo. Uma das associações mais proeminentes é com a teofania, a manifestação visível de Deus. O exemplo mais vívido encontra-se no Monte Sinai, onde a presença de Deus é descrita com Fumo denso.
Em Êxodo 19:18, lemos: “Todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo; e a sua fumaça subia como a fumaça de uma fornalha, e todo o monte tremia grandemente.” Aqui, o Fumo é um sinal da santidade inatingível de Deus, de seu poder tremendo e de sua glória majestosa. Ele estabelece uma barreira entre o Deus santo e o povo pecador, enfatizando a necessidade de reverência e temor.
Além da teofania, o Fumo também está presente no contexto dos sacrifícios e da adoração. O incenso, ou qetoret, que produzia Fumo aromático, era uma parte essencial do culto no tabernáculo e no templo. Em Levítico 16:13, o sumo sacerdote devia queimar incenso diante do Senhor, e a nuvem de Fumo cobriria o propiciatório, servindo como uma cobertura protetora para que ele não morresse na presença de Deus.
Este Fumo de incenso simbolizava as orações do povo subindo a Deus, bem como a necessidade de purificação e mediação para se aproximar do Santo. Era um lembrete constante da santidade de Deus e da pecaminosidade humana, que exigia um intercessor e um meio de expiação.
Outra conotação significativa do Fumo no Antigo Testamento é a de juízo e ira divina. O profeta Isaías, em sua visão do Senhor no templo, descreve: “e a casa se encheu de fumaça” (Isaías 6:4), um sinal da glória avassaladora de Deus que traz tanto santidade quanto juízo sobre a impiedade. O Fumo aqui é um presságio da destruição para aqueles que se opõem ao Senhor.
Os profetas frequentemente usam a imagem de cidades e nações sendo destruídas e sua fumaça subindo ao céu como um sinal do juízo divino. Isaías 34:10 descreve a desolação de Edom: “Nem de noite nem de dia se apagará; a sua fumaça subirá para sempre; de geração em geração será deserta, e ninguém passará por ela para todo o sempre.” Este uso profético estabelece uma base para a escatologia do Novo Testamento, onde o Fumo continua a simbolizar o juízo eterno.
Finalmente, o Fumo também serve como uma metáfora para a transitoriedade e a futilidade da vida humana ou dos ímpios. Em Salmo 37:20, a destruição dos ímpios é comparada ao Fumo: “Mas os ímpios perecerão; e os inimigos do Senhor serão como a gordura dos cordeiros; desaparecerão, em fumaça se desfarão.” Isso nos lembra da fragilidade da existência humana sem Deus e da certeza da punição para aqueles que rejeitam a sua soberania.
O desenvolvimento progressivo da revelação no Antigo Testamento mostra o Fumo como um elemento multifacetado que aponta para a majestade de Deus, a seriedade do pecado, a necessidade de adoração mediada e a inevitabilidade do juízo. Ele prepara o terreno para uma compreensão mais completa dessas realidades na aliança superior, por meio de Cristo.
1.1 O ‘ashan e a presença de Deus
O termo hebraico ‘ashan (עָשָׁן) é crucial para entender a manifestação da glória de Deus. No Sinai, o Fumo não era apenas uma nuvem comum, mas uma expressão visível da presença de Javé, acompanhada de trovões, relâmpagos e o som de trombeta, infundindo temor e reverência no povo de Israel.
Essa teofania de Fumo e fogo servia para comunicar a inatingibilidade de Deus em sua santidade, reforçando a distinção entre o Criador e a criatura. Ninguém podia tocar o monte sem morrer, sublinhando que a comunhão com Deus só seria possível através de um mediador e um caminho de purificação, prefigurando a obra de Cristo.
1.2 O qetoret e a adoração mediada
A fumaça do incenso (qetoret, קְטֹרֶת) no culto levítico é um tipo profético significativo. Ela simbolizava as orações e o louvor do povo que subiam a Deus, mas também a necessidade de uma cobertura expiatória. Sem o Fumo do incenso cobrindo o propiciatório, a vida do sumo sacerdote estaria em risco, como em Levítico 16:13.
Isso ilustra que, mesmo na adoração, o homem pecador não pode se aproximar de um Deus santo sem um meio divinamente instituído. O Fumo do incenso, portanto, aponta para a intercessão e a expiação, que encontram sua plenitude e perfeição na pessoa e obra de Jesus Cristo, o Sumo Sacerdote perfeito, que oferece a si mesmo como o sacrifício definitivo.
2. O Fumo no Novo Testamento e seu significado
No Novo Testamento, o fenômeno do Fumo, seja como fumaça ou nuvem, mantém e expande seus significados teológicos do Antigo Testamento, especialmente em relação à pessoa e obra de Cristo, e à consumação dos tempos. As palavras gregas correspondentes são principalmente kapnos (καπνός) para fumaça e nephelē (νεφέλη) para nuvem.
O Fumo, ou mais frequentemente a nuvem, continua a ser um símbolo da presença divina e da glória de Deus. No evento da Transfiguração de Jesus, uma nuvem luminosa (nephelē) os cobriu, e uma voz do céu declarou: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi” (Mateus 17:5). Esta nuvem, similar à nuvem do Sinai e da glória Shekinah do Antigo Testamento, é uma manifestação da presença de Deus Pai, validando a divindade e autoridade de Jesus Cristo.
A nuvem também marca o ponto de transição entre a presença terrena de Jesus e sua glória celestial na Ascensão. Em Atos 1:9, lemos que, enquanto os discípulos olhavam, Jesus foi elevado, “e uma nuvem o recebeu, para que não o vissem mais.” Aqui, a nuvem não apenas simboliza a partida para a glória de Deus, mas também prefigura seu retorno, pois os anjos declaram que “esse Jesus, que dentre vós foi levado para o céu, assim virá como o vistes ir para o céu” (Atos 1:11), muitas vezes associado a vir nas nuvens (Apocalipse 1:7).
A literatura joanina, particularmente o livro de Apocalipse, faz uso extensivo do Fumo para simbolizar o juízo divino e as orações dos santos. Em Apocalipse 8:4, a fumaça do incenso, que representa as orações dos santos, sobe diante de Deus: “E a fumaça do incenso subiu com as orações dos santos desde a mão do anjo até diante de Deus.” Esta imagem ecoa o incenso do Antigo Testamento, mostrando a continuidade da eficácia das orações dos crentes.
Por outro lado, o Fumo em Apocalipse é também um sinal inequívoco do juízo e da ira de Deus. Em Apocalipse 9:2-3, a abertura do poço do abismo libera fumaça: “E abriu o poço do abismo, e subiu fumaça do poço, como a fumaça de uma grande fornalha; e com a fumaça do poço escureceu-se o sol e o ar. E da fumaça vieram gafanhotos sobre a terra...” Este Fumo é um prenúncio de tormento e destruição, uma manifestação da justiça divina sobre um mundo rebelde.
A fumaça da destruição de Babilônia, a grande meretriz, é descrita em Apocalipse 18:9 e 19:3, onde sua fumaça sobe para todo o sempre, um eco das profecias de juízo do Antigo Testamento. Isso demonstra a continuidade da simbologia do Fumo como um sinal visível da ira de Deus contra o pecado e a impiedade. A relação específica com a pessoa e obra de Cristo é vista no fato de que Ele é o juiz final (João 5:22-23) e aquele que redime do juízo representado pelo Fumo.
Em resumo, o Fumo no Novo Testamento mantém sua associação com a glória de Deus, a manifestação de sua presença e o juízo divino, mas agora tudo isso está intrinsecamente ligado à pessoa e obra de Jesus Cristo. Ele é o mediador supremo que permite a aproximação de Deus, o objeto da glória divina na Transfiguração, o que ascende à glória em nuvem, e o juiz que virá sobre as nuvens para consumar a história.
2.1 O kapnos e o juízo escatológico
O termo grego kapnos (καπνός) é predominantemente usado no livro de Apocalipse para descrever a fumaça resultante da destruição e do juízo divino. Essa fumaça não é apenas um subproduto da aniquilação, mas um símbolo visível e duradouro da ira de Deus.
Em Apocalipse 14:11, a fumaça do tormento daqueles que adoram a besta sobe “para todo o sempre”, indicando a natureza eterna da punição. Esta imagem serve como um aviso solene sobre as consequências da rebelião contra Deus e a rejeição de Cristo como Senhor e Salvador, reforçando a seriedade da escatologia evangélica.
2.2 A nephelē e a glória de Cristo
A nephelē (νεφέλη), ou nuvem, no Novo Testamento, é consistentemente associada à glória de Deus e, especificamente, à glória de Cristo. Na Transfiguração, a nuvem é o véu da glória divina que valida a divindade de Jesus e a autoridade de sua Palavra, como em Mateus 17:5.
A ascensão de Cristo em uma nuvem (Atos 1:9) não é um mero desaparecimento, mas um retorno triunfal à glória de onde Ele veio. Da mesma forma, sua segunda vinda “com as nuvens” (Apocalipse 1:7) será uma manifestação pública e gloriosa de sua soberania e poder como Rei e Juiz, cumprindo as profecias do Antigo Testamento sobre o Filho do Homem.
3. O Fumo na teologia paulina: a base da salvação
Embora o apóstolo Paulo não utilize o termo Fumo (fumaça ou nuvem) como um conceito teológico central em suas doutrinas da salvação, podemos discernir a relevância dos símbolos associados ao Fumo em sua teologia soteriológica, especialmente por contraste e implicação. A teologia paulina se concentra intensamente na obra redentora de Cristo e na justificação pela fé, e o Fumo pode servir como uma metáfora para aquilo do qual somos salvos, ou para aspectos da vida antes da redenção.
Um dos temas recorrentes na teologia paulina é o contraste entre a glória de Deus manifestada em Cristo e a futilidade e transitoriedade da existência humana sem Ele. O Fumo, em sua natureza efêmera e dispersiva, pode simbolizar a vaidade das obras humanas e da justiça própria, que Paulo categoriza como "perda" e "lixo" em comparação com o conhecimento de Cristo (Filipenses 3:7-8). A fumaça das obras da Lei, sem a fé, não leva à salvação.
Paulo argumenta veementemente em Romanos 3:20 que “ninguém será justificado diante dele por obras da lei”. As tentativas humanas de alcançar a justiça são como Fumo – passageiras, sem substância e incapazes de sustentar-se diante da santidade de Deus. A salvação, ao contrário, é um ato eterno e imutável de Deus, fundamentado na graça e recebido pela fé (Efésios 2:8-9).
Outro ponto de conexão pode ser encontrado na associação do Fumo com o juízo divino. Paulo enfatiza que “a ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e injustiça dos homens” (Romanos 1:18). O Fumo do juízo e do fogo, conforme visto no Antigo Testamento e em Apocalipse, representa essa ira. A obra de Cristo na cruz, no entanto, oferece libertação dessa ira vindoura. “Muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Romanos 5:9).
Assim, o Fumo do juízo que aguarda os ímpios é o que Cristo, por sua morte sacrificial, nos liberta. A justificação pela fé em Cristo nos remove da esfera da condenação e nos introduz na esfera da graça. A cruz de Cristo é o ponto onde a ira de Deus é satisfeita, e o pecador é redimido do destino simbolizado pelo Fumo ardente da condenação.
Além disso, a nuvem (nephelē), que no Antigo Testamento e nos Evangelhos simboliza a presença de Deus, pode ser vista em Paulo como o ambiente da nova aliança. Em 1 Coríntios 10:1-2, Paulo faz referência aos israelitas que “foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar”. Embora essa seja uma referência histórica, o contexto paulino de advertência contra a idolatria e a murmuração sublinha a seriedade da presença de Deus e a necessidade de uma resposta fiel, que é agora encontrada em Cristo.
A teologia paulina, focada na sola gratia e sola fide, nos lembra que a salvação não depende de rituais ou esforços humanos que podem ser tão efêmeros quanto Fumo, mas da obra perfeita e completa de Cristo. A justificação é um ato forense de Deus que declara o pecador justo com base na justiça imputada de Cristo, uma realidade sólida e eterna, em contraste com a fumaça da autojustiça.
Na santificação, o crente é chamado a viver uma vida que glorifica a Deus, não se conformando com este mundo, mas sendo transformado pela renovação da mente (Romanos 12:1-2). Essa vida, guiada pelo Espírito Santo, é uma realidade substancial, em contraste com a fumaça das paixões carnais e mundanas que são passageiras e sem valor eterno.
3.1 O contraste entre a futilidade do homem e a obra de Cristo
Paulo frequentemente contrasta a glória de Deus com a fraqueza e a futilidade da humanidade caída. A fumaça, com sua natureza fugaz e sua incapacidade de se manter, pode metaforicamente representar a ineficácia das tentativas humanas de alcançar a justiça por seus próprios méritos.
A justificação pela fé em Cristo (Romanos 3:28) é a única base sólida para a salvação, em oposição a qualquer "fumaça" de autojustiça ou obras da lei que se desvanecem diante do padrão divino. A teologia reformada, com seu foco na depravação total e na graça irresistível, reforça que a salvação é inteiramente obra de Deus, e não do homem.
3.2 Libertação do Fumo do juízo pela cruz
A mensagem central de Paulo é que Cristo morreu pelos nossos pecados (1 Coríntios 15:3), oferecendo-se como propiciação pela ira de Deus. O Fumo que simboliza o juízo divino, a condenação e o tormento eterno, é o destino do qual somos resgatados pela obra expiatória de Cristo na cruz.
A doutrina da substituição penal enfatiza que Cristo suportou a totalidade da ira de Deus em nosso lugar, salvando-nos do "fogo e da fumaça" do inferno. Essa salvação é uma dádiva da graça de Deus, recebida pela fé, e é a base da segurança eterna do crente (João 10:28-29), em contraste com a incerteza e a efemeridade da vida sem Cristo.
4. Aspectos e tipos de Fumo
A análise do Fumo nas Escrituras revela que ele possui diferentes manifestações e facetas, cada uma com sua própria nuance teológica. Não se trata de um conceito monolítico, mas de um símbolo dinâmico que adquire significado de acordo com seu contexto. Podemos distinguir pelo menos quatro aspectos principais do Fumo bíblico.
O primeiro é o Fumo da presença divina e glória. Este é o Fumo que envolve o Monte Sinai (Êxodo 19:18), enche o templo na visão de Isaías (Isaías 6:4) e se manifesta como nuvem na Transfiguração de Cristo (Mateus 17:5). Ele simboliza a santidade inatingível de Deus, sua majestade e o mistério de sua essência. É um Fumo que inspira temor reverente e reconhecimento da soberania divina.
O segundo é o Fumo do juízo e da ira divina. Este aspecto é proeminente nas profecias do Antigo Testamento sobre a destruição de nações e no livro de Apocalipse, onde o Fumo da destruição de Babilônia sobe para sempre (Apocalipse 19:3). Ele serve como um lembrete vívido da justiça de Deus contra o pecado e da inevitabilidade da sua retribuição. Este Fumo é um símbolo do castigo eterno para os ímpios.
O terceiro aspecto é o Fumo do sacrifício e da adoração intercessória. Este é o Fumo do incenso no tabernáculo e no templo (Levítico 16:13), que também aparece em Apocalipse como as orações dos santos subindo a Deus (Apocalipse 8:4). Ele representa a aceitação de Deus da adoração mediada e a eficácia das orações dos crentes, sublinhando a importância da intercessão e da dependência de Deus.
O quarto aspecto é o Fumo da transitoriedade e da futilidade. Este Fumo é uma metáfora para a brevidade da vida humana, a fragilidade das obras sem Deus e a vaidade das coisas terrenas. Os ímpios se desfazem em Fumo (Salmo 37:20), e a vida é como um vapor que logo desaparece (Tiago 4:14, embora não use explicitamente "fumaça", o conceito de vapor é análogo). Isso serve como um lembrete da nossa mortalidade e da necessidade de buscar o que é eterno em Cristo.
No desenvolvimento da teologia reformada, esses aspectos do Fumo são frequentemente interpretados em relação à soberania de Deus, à depravação humana, à obra redentora de Cristo e à consumação escatológica. Teólogos como João Calvino e Martinho Lutero enfatizariam a glória de Deus (soli Deo gloria) em todas as suas manifestações, incluindo as teofanias de Fumo e a seriedade do juízo divino.
É vital evitar erros doutrinários, como a atribuição de poder místico ou sacramental ao Fumo em si, ou a interpretação literalista de toda ocorrência de Fumo como tendo o mesmo significado. O Fumo não é um objeto de adoração ou um meio de graça; é um símbolo que aponta para realidades espirituais maiores. A perspectiva reformada nos lembra que a graça de Deus é a única fonte de salvação, e não qualquer observância ou elemento físico.
4.1 O Fumo como símbolo da glória e santidade de Deus
O Fumo, especialmente em contextos de teofania, serve como um véu que revela e esconde simultaneamente a glória de Deus. Ele mostra a presença divina, mas também resguarda a plenitude de sua santidade, que o homem pecador não poderia suportar diretamente.
Este aspecto do Fumo nos ensina sobre a transcendência de Deus, sua alteridade e a necessidade de reverência em sua presença. Ele nos lembra que Deus é santo, santo, santo (Isaías 6:3) e que a aproximação a Ele só é possível por meio do sangue de Cristo, que abriu um novo e vivo caminho (Hebreus 10:19-20).
4.2 O Fumo como sinal de juízo e condenação
O Fumo que sobe da destruição e do tormento é um símbolo potente da justiça retributiva de Deus. Ele representa a consequência final e eterna do pecado e da rebelião contra o Criador.
Este aspecto do Fumo deve gerar um profundo senso de urgência evangelística e um reconhecimento da seriedade do pecado. Como Spurgeon frequentemente pregava, a realidade do inferno e do juízo divino deve impulsionar os crentes a compartilhar o evangelho que oferece escape dessa condenação (Mateus 25:46).
5. O Fumo e a vida prática do crente
A compreensão dos múltiplos significados do Fumo nas Escrituras, embora simbólica, tem profundas implicações para a vida prática do crente, moldando sua piedade, adoração, serviço e responsabilidade pessoal. Como crentes reformados, somos chamados a viver toda a nossa vida coram Deo (diante da face de Deus), e os símbolos bíblicos nos ajudam a apreender essa realidade.
Primeiramente, o Fumo como símbolo da presença e glória de Deus (como no Sinai ou na Transfiguração) deve instilar no crente um profundo senso de reverência e temor. Isso se traduz em uma vida de santidade e obediência, reconhecendo que estamos sempre na presença de um Deus santo. O crente é chamado a adorar a Deus “com reverência e temor” (Hebreus 12:28), ciente de sua majestade e poder.
A consciência do Fumo como sinal de juízo divino deve levar o crente a uma seriedade renovada em relação ao pecado e à sua missão evangelística. Se o Fumo do juízo aguarda os impenitentes, então o crente, salvo pela graça, tem a responsabilidade de proclamar as boas novas de Cristo, que liberta da ira vindoura (Romanos 10:14-15). Isso implica em viver uma vida que reflete o arrependimento e a fé, sendo um testemunho vivo da salvação.
O Fumo do incenso, representando as orações dos santos, enfatiza a centralidade da oração na vida cristã. O crente é chamado a orar sem cessar (1 Tessalonicenses 5:17), apresentando suas súplicas, agradecimentos e intercessões a Deus. As orações são um "sacrifício de louvor" (Hebreus 13:15), subindo a Deus como um aroma agradável, e têm um papel ativo no plano divino, como visto em Apocalipse.
A metáfora do Fumo como transitoriedade da vida deve moldar a perspectiva do crente sobre as prioridades terrenas. Se a vida é como um vapor (Tiago 4:14), então o crente deve buscar as coisas do alto, onde Cristo está (Colossenses 3:1-2), e não acumular tesouros na terra. Isso implica em um desapego dos bens materiais e um foco nos valores eternos, vivendo com a consciência da brevidade e da eternidade.
Para a igreja contemporânea, a simbologia do Fumo serve como um lembrete de que nossa adoração deve ser santa e reverente, reconhecendo a majestade de Deus. Devemos nos afastar de abordagens levianas ou antropocêntricas do culto, retornando à teocentrismo que a Bíblia exige. A pregação deve abordar tanto a glória de Deus quanto a seriedade do juízo, e a igreja deve ser um corpo de oração fervorosa.
Exortações pastorais baseadas no Fumo incluem: cultivar um temor santo diante de Deus, que é fogo consumidor (Hebreus 12:29); viver em arrependimento contínuo, ciente da seriedade do pecado e da graça que nos livra do Fumo da condenação; e orar com fé e persistência, sabendo que nossas orações sobem como incenso diante do trono de Deus. Dr. Martyn Lloyd-Jones frequentemente exortava seus ouvintes a uma profunda reverência e a uma vida de oração, ecoando esses princípios.
Em última análise, o Fumo nas Escrituras é um lembrete visual e simbólico das grandes verdades da fé protestante evangélica: a soberania e santidade de Deus, a pecaminosidade do homem, a salvação pela graça através da fé em Cristo, o poder da oração e a certeza do juízo final. O equilíbrio entre doutrina e prática é essencial: a verdade sobre o Fumo deve informar nossa teologia e transformar nossa vida, levando-nos a uma adoração mais profunda e a um serviço mais zeloso ao Senhor.
5.1 Reverência e santidade na vida cristã
A presença do Fumo como sinal da glória divina, especialmente no Antigo Testamento, deve nos levar a uma profunda reverência. Isso significa viver uma vida que honra a Deus em todas as áreas, buscando a santidade como um reflexo de quem Ele é (1 Pedro 1:15-16).
A reverência não é medo paralisante, mas um temor santo que reconhece a grandeza de Deus e nos impulsiona à obediência amorosa. É o fundamento de uma piedade genuína e de uma adoração que agrada ao Senhor, que não busca entreter, mas exaltar a Deus.
5.2 Intercessão e dependência em oração
A imagem do Fumo do incenso subindo com as orações dos santos (Apocalipse 8:4) é um poderoso incentivo à vida de oração. Ela nos lembra que nossas orações são ouvidas e valorizadas por Deus, e que elas têm um impacto real no mundo e no plano divino.
A oração é um ato de dependência de Deus, um reconhecimento de que somos incapazes por nós mesmos. Como Calvino ensinou, a oração é o meio pelo qual os crentes expressam sua fé e recebem as bênçãos de Deus, cultivando uma comunhão vital com o Pai através de Cristo.