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Significado de Maalate

A figura de Maalate (hebraico: מַחֲלַת, Maḥălat; מָחְלַת, Maḥlat) é mencionada em duas passagens distintas da Escritura Hebraica, referindo-se a duas mulheres diferentes. Embora compartilhem o mesmo nome, suas identidades, contextos históricos e papéis narrativos são completamente distintos. A análise bíblica e teológica deve, portanto, abordar ambas as figuras para fornecer uma compreensão abrangente de seu significado no cânon bíblico, sob uma perspectiva protestante evangélica que valoriza a precisão exegética e a autoridade das Escrituras.

A primeira Maalate é a filha de Ismael e esposa de Esaú, mencionada no livro de Gênesis. A segunda Maalate é a filha de Jerimote, filho de Davi, e uma das esposas de Roboão, registrada no livro de 2 Crônicas. Ambas as menções, embora breves, inserem essas mulheres em contextos cruciais da história redentora: a linhagem patriarcal e a dinastia davídica, respectivamente.

Este estudo examinará a etimologia do nome, o contexto histórico e a narrativa bíblica de cada Maalate, seu papel e caráter conforme revelado nas Escrituras, seu significado teológico e, finalmente, seu legado bíblico-teológico para a compreensão do plano de Deus.

1. Etimologia e significado do nome

O nome Maalate aparece em hebraico com duas vocalizações ligeiramente diferentes, mas que derivam de raízes etimológicas próximas, ou que possuem múltiplos significados dependendo do contexto. Para a Maalate de Gênesis, a forma é מַחֲלַת (Maḥălat), enquanto para a de 2 Crônicas é מָחְלַת (Maḥlat). Ambas as formas são geralmente associadas à raiz hebraica חָלָה (ḥālāh), que pode ter um campo semântico variado.

Uma derivação comum para ḥālāh é "estar doente", "estar fraco" ou "sentir dor". Se interpretado nesse sentido, o nome Maalate poderia significar "doença", "fraqueza" ou "sofrimento". No entanto, outra linha etimológica sugere uma conexão com a ideia de "apaziguar", "acalmar" ou "ser agradável/doce", especialmente quando se refere a uma melodia (como em um instrumento de sopro ou cordas, como uma flauta ou lira, que produz um som suave e agradável). Essa segunda derivação pode ser vista em contextos de súplica ou apaziguamento.

No contexto da Maalate de Gênesis, esposa de Esaú, a interpretação de "apaziguamento" ou "agradável" parece mais coerente com a narrativa. Esaú casou-se com ela em uma tentativa de agradar seus pais, Isaque e Rebeca, que estavam desgostosos com suas esposas cananeias (Gênesis 28:8-9). O nome, nesse sentido, poderia simbolizar a intenção de Esaú de "suavizar" ou "apaziguar" a ira ou tristeza de seus pais, embora sua escolha ainda fosse problemática do ponto de vista da aliança.

Para a Maalate de 2 Crônicas, esposa de Roboão, o significado do nome não tem uma conexão tão evidente com a narrativa. No entanto, o nome pode simplesmente ter sido popular na época, sem uma intenção simbólica direta para sua portadora específica. A ambiguidade semântica da raiz hebraica permite flexibilidade na interpretação, embora a "doença" seja a mais literal para ḥālāh.

É importante notar que a Maalate de Gênesis 28:9 é também referida como Basemate (בָּשְׂמַת, Basemat) em Gênesis 36:3. Essa variação gerou debate entre os estudiosos. Alguns sugerem que são duas pessoas distintas, enquanto outros argumentam que é a mesma pessoa com dois nomes (um costume comum na antiguidade) ou que se trata de uma variante textual. A perspectiva evangélica conservadora geralmente busca harmonizar as Escrituras, tendendo a aceitar a possibilidade de dois nomes para a mesma pessoa ou a reconhecer uma complexidade na transmissão textual que não mina a inerrância, mas exige cuidadosa exegese.

Não há outros personagens bíblicos proeminentes com o nome Maalate. A significância teológica do nome, portanto, reside principalmente na sua potencial conexão com a tentativa de Esaú de apaziguar seus pais e, em um sentido mais geral, na providência divina que muitas vezes usa nomes para refletir circunstâncias ou destinos, mesmo que não seja o caso para todas as ocorrências.

2. Contexto histórico e narrativa bíblica

As duas figuras de Maalate habitam períodos históricos e contextos sociais e religiosos distintos, cada uma desempenhando um papel menor, mas significativo, dentro de suas respectivas narrativas.

2.1 Maalate, filha de Ismael e esposa de Esaú

Esta Maalate é inserida no período patriarcal, aproximadamente entre 2000 e 1500 a.C., um tempo de formação das famílias que dariam origem à nação de Israel. O contexto político e social era dominado por clãs semi-nômades e cidades-estado na terra de Canaã. Religiosamente, era o período da revelação da aliança abraâmica, com ênfase na descendência e na promessa de terra.

Sua genealogia a posiciona como filha de Ismael, o filho de Abraão e Hagar (Gênesis 16:15), tornando-a neta de Abraão. Ela era, portanto, prima de Esaú, o filho primogênito de Isaque e Rebeca (Gênesis 25:25-26). O casamento de Esaú com Maalate é registrado em Gênesis 28:9, após Esaú perceber que suas esposas heteias haviam desagradado profundamente seus pais (Gênesis 26:34-35, 27:46). A narrativa chave é encontrada em Gênesis 28:6-9:

"Quando Esaú viu que Isaque tinha abençoado Jacó e o enviara para Padã-Arã, para dali tomar mulher, e que, abençoando-o, lhe ordenara, dizendo: Não tomes mulher das filhas de Canaã; e que Jacó obedecera a seu pai e a sua mãe e fora para Padã-Arã, vendo também Esaú que as filhas de Canaã eram más aos olhos de Isaque, seu pai, foi Esaú a Ismael e tomou por mulher, além das que já tinha, a Maalate, filha de Ismael, filho de Abraão, irmã de Nebaiote."

A menção de Maalate ocorre em um momento crítico da história familiar de Isaque, onde a questão da linhagem e da pureza da descendência para a aliança era primordial. Esaú, em uma tentativa tardia e mal direcionada de agradar seus pais, casou-se com Maalate. No entanto, essa escolha ainda era fora da linhagem direta da promessa através de Isaque e Rebeca, que haviam instruído Jacó a buscar uma esposa entre os parentes de Rebeca em Padã-Arã (Gênesis 28:1-2).

A geografia associada a esta Maalate inclui a região de Beer-seba, onde Isaque e Rebeca residiam, e a área de Canaã, onde Esaú já havia se estabelecido com suas esposas anteriores. Seus irmãos e sua família paterna, os ismaelitas, habitavam as regiões desérticas a leste de Canaã (Gênesis 25:18). Suas relações são com Ismael (pai), Nebaiote (irmão), Esaú (marido), e indiretamente com Isaque e Rebeca (sogros).

2.2 Maalate, filha de Jerimote e esposa de Roboão

Esta segunda Maalate aparece no contexto do início da monarquia dividida em Israel, aproximadamente no século X a.C., logo após a morte de Salomão (cerca de 931 a.C.). O cenário político era de grande turbulência, com a secessão das dez tribos do norte e a formação do Reino de Israel, deixando Roboão para governar apenas o Reino de Judá. O contexto religioso era de luta contra a idolatria e pela preservação do culto no Templo de Jerusalém.

Sua genealogia a conecta diretamente à casa real de Davi. Ela é identificada como filha de Jerimote, filho de Davi (2 Crônicas 11:18). Jerimote não é um dos filhos mais conhecidos de Davi, mas sua descendência era parte da vasta família real. Maalate casou-se com Roboão, filho e sucessor de Salomão, e neto de Davi (1 Reis 11:43, 12:1). A passagem chave é 2 Crônicas 11:18-19:

"E Roboão tomou para si por mulher a Maalate, filha de Jerimote, filho de Davi, e a Abiail, filha de Eliabe, filho de Jessé. E ela lhe deu filhos: Jeús, Semarias e Zaão."

Essa passagem detalha os esforços de Roboão para consolidar seu reino e sua dinastia através de múltiplos casamentos, uma prática comum entre os reis antigos para assegurar alianças e descendência. Maalate foi uma das muitas esposas de Roboão, que teve dezoito esposas e sessenta concubinas, gerando vinte e oito filhos e sessenta filhas (2 Crônicas 11:21). Sua menção sublinha a complexidade e a extensão da família real davídica.

A geografia relacionada a esta Maalate é Jerusalém, o centro do Reino de Judá. Suas relações incluem Jerimote (pai), Davi (avô), Roboão (marido), Salomão (sogro) e seus filhos Jeús, Semarias e Zaão. A presença dela na família real de Roboão é parte da documentação genealógica que estabelece a continuidade da linhagem davídica, essencial para as promessas messiânicas.

3. Caráter e papel na narrativa bíblica

A brevidade das menções a ambas as Maalates nas Escrituras significa que não há desenvolvimento de caráter profundo ou descrições de suas personalidades. Seu papel é mais funcional, servindo para avançar ou ilustrar aspectos da narrativa maior em que estão inseridas.

3.1 Caráter e papel de Maalate, filha de Ismael

O texto bíblico não oferece detalhes sobre o caráter pessoal de Maalate, filha de Ismael. Ela é apresentada não por suas ações, mas como o objeto da decisão de Esaú. Sua significância reside na sua identidade e na sua relação matrimonial.

Seu papel principal é o de uma esposa de Esaú, escolhida por ele em uma tentativa de agradar seus pais. Essa decisão de Esaú, casar-se com uma filha de Ismael, é um ponto crucial. Enquanto Isaque e Rebeca enviam Jacó para Padã-Arã para se casar com alguém da linhagem de Abraão, Esaú, em sua superficialidade e falta de discernimento espiritual, casa-se com uma ismaelita. Embora Ismael também fosse filho de Abraão, sua linhagem não era a da promessa da aliança que se daria através de Isaque e Jacó (Gênesis 21:12).

Dessa forma, Maalate se torna um símbolo da contínua alienação de Esaú da aliança divina e da sua incapacidade de compreender a seriedade das preocupações de seus pais. Mesmo em seu esforço para se reconciliar, ele escolhe uma parceira que, embora parente, não pertencia à linhagem específica da promessa. Não há evidência de virtudes ou falhas morais atribuídas diretamente a ela, pois a narrativa se concentra na perspectiva de Esaú e seus pais.

3.2 Caráter e papel de Maalate, filha de Jerimote

Similarmente, o caráter de Maalate, filha de Jerimote, não é descrito. Ela é mencionada como uma das esposas de Roboão e mãe de três de seus filhos: Jeús, Semarias e Zaão (2 Crônicas 11:19). Seu papel é essencialmente dinástico.

Sua importância reside em sua contribuição para a continuidade da linhagem real davídica através de Roboão. Em um período de instabilidade política e religiosa, a proliferação de filhos e a manutenção da linhagem real eram cruciais para a estabilidade do reino de Judá e para o cumprimento das promessas divinas a Davi. Como mãe de príncipes, ela contribuiu para a sucessão real.

A Escritura não registra ações ou decisões-chave de Maalate. Ela é parte da estrutura familiar que Roboão construiu para fortalecer seu reinado em Jerusalém (2 Crônicas 11:23). O fato de ela ser filha de um filho de Davi (Jerimote) sugere que Roboão também buscava fortalecer laços dentro da própria casa real davídica, talvez para evitar disputas de sucessão e solidificar sua posição.

4. Significado teológico e tipologia

Embora figuras secundárias, as duas Maalates contribuem para a tapeçaria teológica da Bíblia, especialmente em relação aos temas de aliança, linhagem e providência divina.

4.1 Significado teológico de Maalate, filha de Ismael

A história de Maalate, filha de Ismael, é intrinsecamente ligada ao tema da aliança abraâmica e à separação das linhagens. A preocupação de Isaque e Rebeca com as esposas cananeias de Esaú (Gênesis 26:34-35, 27:46) reflete a importância da pureza da linhagem para a preservação das promessas de Deus. A endogamia dentro da comunidade da aliança era vital para evitar a assimilação cultural e religiosa com povos idólatras, um tema recorrente na Torá.

Esaú, ao casar-se com Maalate, uma ismaelita, demonstra uma contínua falta de discernimento espiritual. Embora Ismael fosse descendente de Abraão, a promessa da aliança foi especificamente estabelecida através de Isaque e sua descendência (Gênesis 21:12). O casamento de Esaú com Maalate, portanto, não corrige seu erro anterior de casar-se com mulheres cananeias, mas antes o reitera, solidificando sua separação da linhagem da promessa. Ele busca agradar seus pais, mas falha em entender o cerne da questão da aliança.

Não há uma tipologia cristocêntrica direta em Maalate. Em vez disso, ela serve como um ponto de contraste. Sua história ilustra as consequências da desobediência e da falta de fé em relação aos mandamentos divinos sobre o casamento e a preservação da linhagem santa. A escolha de Esaú sublinha a importância da eleição divina e da fidelidade humana às instruções de Deus para a continuidade do plano redentor. A linhagem que levaria ao Messias viria através de Jacó, não de Esaú, e a escolha das esposas de Esaú reforça essa distinção.

Essa narrativa conecta-se a temas teológicos centrais como a soberania de Deus na eleição (Romanos 9:10-13), a importância da obediência à vontade divina, e o cuidado de Deus em preservar a linhagem da qual viria o Salvador. A história de Maalate, embora breve, ressalta a seriedade das escolhas matrimoniais no contexto da fé e da aliança.

4.2 Significado teológico de Maalate, filha de Jerimote

A Maalate de 2 Crônicas, esposa de Roboão, tem um significado teológico diferente, centrado na preservação da dinastia davídica e na fidelidade de Deus às Suas promessas. O casamento real de Roboão com Maalate, uma neta de Davi, contribui para a estabilidade e legitimidade de sua casa em Judá, após a divisão do reino.

A presença de Maalate na genealogia de Roboão reforça a promessa feita a Davi em 2 Samuel 7:12-16, de que seu trono seria estabelecido para sempre. Mesmo com a infidelidade e a divisão do reino, Deus providencialmente assegura que a linhagem de Davi continue através de seus descendentes, como Roboão. Os filhos que Maalate teve com Roboão (Jeús, Semarias, Zaão) são parte dessa continuidade, garantindo a sucessão e a preservação da "lâmpada" para Davi em Jerusalém (1 Reis 11:36).

Em termos de tipologia, Maalate não é um tipo direto de Cristo. No entanto, sua existência e sua descendência são parte da cadeia genealógica que, em última instância, aponta para Jesus Cristo, o Messias, que é o "Filho de Davi" por excelência (Mateus 1:1). A meticulosa documentação das linhagens em Crônicas, incluindo figuras como Maalate, serve para sublinhar a fidelidade de Deus em cumprir Suas promessas e preparar o caminho para o vindouro Rei messiânico. O Antigo Testamento, sob uma perspectiva evangélica, é fundamentalmente cristocêntrico, e cada detalhe, por menor que seja, contribui para essa grande narrativa redentora.

Essa narrativa conecta-se a temas como a fidelidade de Deus à Sua aliança davídica, a soberania divina na preservação de Sua linhagem eleita, e a importância da história genealógica para a compreensão da história da salvação. A existência de Maalate e seus filhos assegura que a promessa de um rei eterno da casa de Davi permaneça viável, apontando para o cumprimento definitivo em Cristo.

5. Legado bíblico-teológico e referências canônicas

O legado de ambas as figuras de Maalate é, em grande parte, indireto, mas significativo para a compreensão de temas maiores na teologia bíblica. Elas são menções canônicas que, apesar de breves, fornecem detalhes cruciais para a integridade da narrativa e da genealogia bíblica.

A Maalate de Gênesis é mencionada exclusivamente em Gênesis 28:9, com a possível referência como Basemate em Gênesis 36:3. Sua contribuição literária é nula, e sua influência direta na teologia bíblica é limitada ao seu papel como parte da narrativa de Esaú e sua relação com a aliança. Na tradição interpretativa judaica e cristã, ela é geralmente discutida no contexto das escolhas de Esaú e da separação entre as linhagens de Jacó e Esaú. Teólogos evangélicos conservadores frequentemente usam sua história para ilustrar a importância da obediência aos princípios divinos de casamento e a distinção entre a linhagem da promessa e outras descendências de Abraão, enfatizando a soberania de Deus na eleição.

A Maalate de 2 Crônicas é mencionada apenas em 2 Crônicas 11:18-19. Ela não tem contribuições literárias e sua influência teológica é indireta, ligada à preservação da dinastia davídica. Sua inclusão nas genealogias de Crônicas ressalta a importância que os cronistas davam à continuidade da casa de Davi, um tema vital para a esperança messiânica. Na tradição interpretativa, ela é uma figura secundária, mas sua existência confirma a genealogia de Roboão e a descendência de Davi. Na teologia reformada e evangélica, sua menção é vista como mais uma evidência da fidelidade de Deus em manter a Sua aliança com Davi, garantindo que a linhagem através da qual o Messias viria permanecesse intacta, apesar das falhas humanas e das divisões políticas.

Ambas as Maalates, apesar de seu papel modesto, são importantes para a compreensão do cânon bíblico. Elas atestam a meticulosidade das Escrituras em registrar detalhes genealógicos e históricos que, embora possam parecer insignificantes à primeira vista, são cruciais para a integridade da história da salvação. A precisão dessas menções reforça a autoridade bíblica e a providência divina que guia cada aspecto da história humana em direção ao cumprimento do plano redentor em Jesus Cristo.

Em suma, as figuras de Maalate, embora distintas e com pouca visibilidade individual, servem como peças no grande mosaico da história bíblica. A Maalate de Gênesis ilustra as consequências da desobediência à aliança e a falha de Esaú em discernir a vontade de Deus. A Maalate de 2 Crônicas, por sua vez, exemplifica a providência de Deus na preservação da linhagem davídica, essencial para a vinda do Messias. Ambas, portanto, contribuem para uma compreensão mais rica e detalhada da fidelidade de Deus às Suas promessas e ao Seu plano redentor global.