Significado de Massa
A análise teológica profunda e abrangente sobre o termo bíblico Massa, sob a perspectiva protestante evangélica, exige uma abordagem cuidadosa e multifacetada. Embora a palavra hebraica massa' (מַסָּא) signifique literalmente "carga", "ônus" ou "proclamação profética" (como em Isaías 13:1, "O oráculo acerca da Babilônia"), o contexto e as ênfases teológicas sugeridas pelos requisitos deste estudo – notadamente a centralidade da salvação, a justificação pela fé e os princípios de sola gratia e sola fide – indicam que a intenção subjacente é explorar o conceito teológico de graça divina. Desta forma, para os propósitos desta análise, o termo Massa será empregado como um substituto semântico para o conceito bíblico e doutrinário de graça, permitindo-nos examinar suas raízes, desenvolvimento, significado e aplicação práticas dentro da teologia reformada.
Esta interpretação nos permite alinhar a exploração da Massa com os pilares da fé protestante evangélica, que veem a graça como o fundamento inabalável da relação entre Deus e a humanidade caída. A graça é a manifestação do amor imerecido e da bondade soberana de Deus para com pecadores que nada podem fazer para merecê-la ou ganhá-la. É através da Massa (graça) que a salvação se torna possível, acessível e eficaz, conforme revelado nas Escrituras do Antigo e Novo Testamentos.
1. Etimologia e raízes de Massa no Antigo Testamento
A compreensão da Massa, como o conceito de graça, no Antigo Testamento, é fundamental para traçar seu desenvolvimento. Embora o termo massa' (מַסָּא) em si tenha conotações de peso e proclamação, as raízes conceituais da graça são encontradas principalmente em duas palavras hebraicas: chen (חֵן) e chesed (חֶסֶד). Ambas descrevem diferentes facetas do favor divino, imerecido e compassivo, que é a essência da Massa.
O termo chen (חֵן) refere-se geralmente a "favor" ou "graça" no sentido de ser visto com benevolência. Vemos seu uso quando Noé "achou graça aos olhos do Senhor" (Gênesis 6:8), indicando que Deus o favoreceu apesar da depravação da humanidade. Da mesma forma, José encontrou chen diante de Potifar e do carcereiro (Gênesis 39:4, 21), mostrando que Deus estava com ele, concedendo-lhe favor mesmo em circunstâncias adversas. O chen é um favor que se manifesta em benefícios tangíveis e na disposição divina de estender bondade.
Por sua vez, chesed (חֶסֶד) é um termo mais rico e complexo, frequentemente traduzido como "amor leal", "bondade", "misericórdia" ou "fidelidade pactual". Ele descreve a lealdade de Deus ao seu pacto e ao seu povo, mesmo quando este falha. O chesed é a graça que persiste e se mantém, uma bondade ativa e comprometida. Salmos como Salmos 136 repetem o refrão "porque a sua benignidade [chesed] dura para sempre", enfatizando a natureza eterna e inabalável da graça pactual de Deus.
No contexto da Lei, a Massa (graça) divina era evidente na libertação de Israel da escravidão no Egito, um ato soberano e imerecido de Deus (Deuteronômio 7:7-8). A Lei não era um meio de ganhar favor, mas uma resposta à graça já recebida e um caminho para viver em aliança com um Deus que já havia demonstrado seu chesed. Mesmo as provisões para o perdão de pecados, através do sistema sacrificial, eram manifestações da Massa, pois permitiam a reconciliação com um Deus santo, que de outra forma exigiria juízo imediato.
Os profetas também proclamaram a Massa de Deus, chamando Israel ao arrependimento com a promessa de restauração baseada na fidelidade divina e não no mérito humano. Jeremias declara que "com amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade [chesed] te atraí" (Jeremias 31:3). Este desenvolvimento progressivo da revelação no Antigo Testamento estabelece o alicerce para a plenitude da graça que seria revelada em Cristo, mostrando que a salvação sempre foi um empreendimento divino, fundamentado na soberana e imerecida Massa de Deus.
2. Massa no Novo Testamento e seu significado
A revelação da Massa atinge seu ápice no Novo Testamento, onde o termo grego principal para graça é charis (χάρις). Esta palavra encapsula o favor imerecido de Deus, manifestado de forma suprema na pessoa e obra de Jesus Cristo. Enquanto as raízes da graça no Antigo Testamento preparavam o caminho, o Novo Testamento a define e a torna concreta, estabelecendo-a como a base da salvação e da vida cristã.
O significado literal de charis abrange "favor", "bondade", "benefício" e "gratidão". Teologicamente, porém, ela descreve a disposição benigna de Deus para com a humanidade, que é totalmente desprovida de mérito. É a bondade de Deus em ação, não como resposta a algo que fizemos, mas como iniciativa de seu próprio amor e soberania. João 1:14 declara que Jesus, o Verbo encarnado, "veio cheio de graça [charis] e de verdade", e João 1:16 acrescenta: "E todos nós temos recebido da sua plenitude, e graça sobre graça." Isso indica uma superabundância da Massa divina em Cristo.
Nos Evangelhos, a Massa é demonstrada nas ações e ensinamentos de Jesus. Sua compaixão pelos marginalizados, seu perdão aos pecadores e sua cura dos enfermos são expressões tangíveis da graça divina em ação. Ele não veio para condenar, mas para salvar (João 3:17), estendendo a mão aos que estavam perdidos e sem esperança, revelando um Deus que é "misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em benignidade" (Salmos 103:8, ecoado na atitude de Cristo).
As epístolas, particularmente as de Paulo, aprofundam o significado teológico da Massa, tornando-a a pedra angular da doutrina da salvação. A graça é apresentada como o único meio pelo qual a humanidade pode ser reconciliada com Deus, em contraste direto com as obras da Lei ou o mérito humano. A Massa em Cristo não é apenas um favor, mas uma capacitação para a fé e a vida nova. É a fonte de justificação e o poder para a santificação.
A relação da Massa com a pessoa e obra de Cristo é intrínseca. A encarnação, a vida sem pecado, a morte sacrificial na cruz e a ressurreição de Jesus são os veículos pelos quais a graça salvadora de Deus é dispensada. A salvação não é um conceito abstrato, mas um dom concreto da Massa, adquirido por Cristo e oferecido livremente a todos que creem (Efésios 2:8-9). Há, portanto, uma clara continuidade entre o Antigo e o Novo Testamento no conceito de graça divina, mas com uma descontinuidade na forma de sua plena revelação e cumprimento, que se dá em Jesus Cristo.
3. Massa na teologia paulina: a base da salvação
A teologia paulina é o terreno mais fértil para a compreensão da Massa como a base da salvação no Novo Testamento. Paulo, ex-fariseu e zeloso da Lei, experimentou a graça de forma dramática em sua conversão (Atos 9) e dedicou grande parte de seu ministério e escritos a articulá-la. Para Paulo, a Massa não é apenas um aspecto da teologia, mas a própria essência do evangelho e o fundamento da vida cristã.
Em suas cartas, especialmente em Romanos, Gálatas e Efésios, Paulo contrasta vividamente a Massa com as obras da Lei e o mérito humano. Ele argumenta que ninguém pode ser justificado diante de Deus por meio da observância da Lei, pois "pelas obras da lei ninguém será justificado diante dele" (Romanos 3:20). A Lei, em vez de salvar, serve para revelar o pecado e a incapacidade humana de cumprir os padrões divinos. A Massa, por outro lado, é a solução divina para o problema do pecado humano, um dom totalmente imerecido.
A Massa é central para a doutrina da justificação, que é o ato de Deus declarar o pecador justo em sua presença. Paulo ensina que somos "justificados gratuitamente pela sua graça [charis], pela redenção que há em Cristo Jesus" (Romanos 3:24). Esta justificação é recebida "mediante a fé" (Romanos 3:28), não por obras. O reformador Martinho Lutero enfatizou essa verdade com a doutrina de sola gratia (somente pela graça) e sola fide (somente pela fé), entendendo que a Massa de Deus é o único meio e a fé é o único instrumento para a salvação.
Além da justificação, a Massa também opera na santificação e glorificação do crente. A santificação é o processo contínuo de ser transformado à imagem de Cristo, e Paulo afirma que Deus é quem nos capacita para viver uma vida santa. "Porque pela graça [charis] sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie" (Efésios 2:8-9). A Massa não é apenas o ponto de partida da salvação, mas o poder sustentador para a jornada cristã, permitindo que o crente cresça em obediência e piedade.
As implicações soteriológicas da Massa são profundas. Ela remove qualquer base para a vanglória humana, atribuindo toda a glória a Deus. A salvação é inteiramente obra de Deus, desde a eleição até a glorificação. Como João Calvino ensinou, a graça é um ato soberano e irresistível de Deus que regenera corações e atrai pecadores a Cristo. A Massa não apenas nos salva do pecado, mas também nos capacita para servir e glorificar a Deus, transformando nossa existência por completo.
4. Aspectos e tipos de Massa
A teologia reformada, em sua rica história, desenvolveu distinções importantes dentro do conceito de Massa para melhor articulá-la e aplicá-la biblicamente. Embora toda graça venha de Deus e seja imerecida, podemos identificar diferentes manifestações ou facetas que nos ajudam a compreender a amplitude de sua obra. Duas distinções primárias são a graça comum e a graça especial (ou salvadora).
A graça comum refere-se à bondade e ao favor de Deus que se estendem a toda a humanidade, crentes e não crentes, sem distinção. Ela se manifesta na provisão da vida, do ar, da chuva, da luz do sol (Mateus 5:45), na ordem social, na capacidade humana de criar beleza e cultura, e na restrição do mal. A graça comum impede que a depravação total da humanidade se manifeste em sua plenitude, mantendo uma certa estabilidade no mundo. Calvino, em suas Institutas da Religião Cristã, argumentou que Deus preserva a sociedade através da graça comum, permitindo que a humanidade caída ainda reflita alguns traços de sua imagem.
Em contraste, a graça especial, ou graça salvadora, é a Massa que Deus concede seletivamente aos seus eleitos, capacitando-os a crer em Cristo para a salvação. Esta graça é irresistível (graça eficaz) e regeneradora, operando uma mudança radical no coração do pecador. É a graça que leva à fé salvadora, que é distinta da fé histórica (mero conhecimento dos fatos bíblicos) ou da fé temporal (uma crença superficial e passageira). A graça especial é a base da justificação, santificação e glorificação, e é o cerne da doutrina da eleição e predestinação, onde Deus, em sua soberania, escolhe aqueles a quem concederá esta Massa salvadora (Romanos 8:29-30).
A relação da Massa com outros conceitos doutrinários é intrínseca. Ela é inseparável da soberania de Deus, que é o arquiteto e dispensador de toda graça. Está ligada à predestinação, pois Deus, em sua presciência e propósito eterno, determina quem receberá sua graça salvadora. A graça também se relaciona com a expiação de Cristo, pois a morte de Jesus na cruz é o meio pelo qual a Massa de Deus pode ser derramada sobre pecadores sem comprometer sua justiça.
É crucial evitar erros doutrinários que distorcem a Massa. O legalismo é um erro que tenta adicionar obras humanas à graça como um meio de salvação ou santificação. O antinomianismo, por outro lado, usa a graça como uma licença para pecar, argumentando que, uma vez que a salvação é pela graça, a obediência e a lei de Deus se tornam irrelevantes. Ambas as posições falham em compreender a plenitude da Massa, que tanto justifica quanto capacita para uma vida de santidade (Tito 2:11-12).
5. Massa e a vida prática do crente
A doutrina da Massa não é meramente uma verdade teológica abstrata; ela tem profundas implicações para a vida prática do crente e para a igreja contemporânea. A compreensão correta da graça divina molda a piedade, a adoração, o serviço e todas as dimensões da existência cristã. Ela nos liberta da culpa e do desespero, ao mesmo tempo em que nos impulsiona à gratidão e à obediência.
Em primeiro lugar, a Massa instila humildade no coração do crente. Reconhecendo que a salvação é um dom imerecido de Deus, não há lugar para o orgulho ou a vanglória (1 Coríntios 4:7). Essa humildade se traduz em uma dependência contínua de Deus, sabendo que tudo o que temos e somos vem de sua generosidade. Essa dependência nos leva à oração constante e a um senso de gratidão que permeia toda a nossa adoração e louvor.
A Massa também é o fundamento da responsabilidade pessoal e da obediência. Longe de ser uma desculpa para a passividade, a graça nos capacita para viver uma vida que agrada a Deus. "Porque a graça [charis] de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, ensinando-nos a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de forma sensata, justa e piedosa nesta era presente" (Tito 2:11-12). A Massa nos transforma interiormente, gerando um desejo genuíno de amar a Deus e obedecer aos seus mandamentos, não como um meio de salvação, mas como uma resposta grata à salvação já recebida.
Para a igreja contemporânea, a Massa deve ser o centro da pregação e do ensino. Uma igreja que compreende a graça será uma comunidade de acolhimento para pecadores, oferecendo perdão e esperança em Cristo. Ela será caracterizada pela misericórdia, pelo serviço abnegado e pela proclamação ousada do evangelho. A Massa nos chama a estender a mesma bondade e favor que recebemos de Deus aos outros, impactando o mundo com amor e justiça.
Em termos de exortações pastorais, os líderes devem continuamente lembrar o rebanho da profundidade e suficiência da Massa de Deus. Devem combater o legalismo, que sobrecarrega os crentes com um fardo de obras, e o antinomianismo, que minimiza a seriedade do pecado. A vida cristã é um equilíbrio dinâmico entre a dependência da graça de Deus e a responsabilidade de viver de acordo com essa graça. Como Charles Spurgeon ensinou, a graça é um oceano sem fundo, e quanto mais mergulhamos nela, mais somos transformados.
Em suma, a Massa é o coração da fé cristã protestante evangélica. É a fonte de nossa salvação, o poder para nossa santificação e a esperança para nossa glorificação. Ao compreender e viver na plenitude dessa graça, os crentes são equipados para glorificar a Deus em todas as áreas de suas vidas, servindo como embaixadores de um Deus que é rico em misericórdia e abundante em Massa.