Significado de Tijolo
A análise teológica do termo bíblico Tijolo revela uma riqueza de significados que transcende sua mera representação material, mergulhando nas profundezas da teologia bíblica, especialmente sob a perspectiva protestante evangélica reformada. Embora o Tijolo não seja um conceito teológico central como a graça ou a fé, sua presença em narrativas cruciais do Antigo Testamento e suas implicações metafóricas no Novo Testamento o tornam um símbolo poderoso da condição humana, da rebelião contra Deus e da futilidade dos esforços humanos em contraste com a soberana obra divina. Este estudo buscará desvendar as camadas de significado do Tijolo, desde suas raízes etimológicas e históricas até suas aplicações soteriológicas e práticas na vida do crente.
A abordagem será sistemática e doutrinária, fundamentada na autoridade inerrante das Escrituras Sagradas, enfatizando a centralidade de Cristo e os princípios da sola Scriptura, sola gratia e sola fide. Veremos como o Tijolo, em suas diversas manifestações contextuais, serve como um contraponto à construção divina e à pedra angular que é Cristo, alertando contra a autossuficiência e o legalismo, e apontando para a absoluta dependência da graça de Deus para a salvação e para uma vida piedosa.
A relevância do Tijolo para a teologia evangélica reside na sua capacidade de ilustrar a natureza da justiça própria, das obras da carne e da tentativa humana de estabelecer sua própria retidão ou de construir um reino à parte de Deus. Ao contrastar o Tijolo com a pedra, especialmente a pedra angular que é Jesus Cristo, as Escrituras delineiam a distinção fundamental entre o que é humano, falho e temporário, e o que é divino, perfeito e eterno. Esta análise visa aprofundar a compreensão de como este elemento aparentemente simples da construção pode comunicar verdades teológicas profundas e duradouras.
1. Etimologia e raízes do Tijolo no Antigo Testamento
No Antigo Testamento, o termo hebraico mais comum para Tijolo é levenah (לבנה), derivado da raiz laven (לבן), que significa "ser branco" ou "branqueado", possivelmente referindo-se à cor da argila ou da cal utilizada na sua fabricação. Este termo é distinto de even (אבן), que significa "pedra", uma distinção crucial para a compreensão teológica, pois a pedra é frequentemente associada à solidez, à durabilidade e, em muitos casos, à própria divindade ou à fundação de Deus, enquanto o Tijolo, sendo um material manufaturado e menos resistente, simboliza a obra humana.
O contexto primário e mais emblemático do uso de levenah é a narrativa da Torre de Babel em Gênesis 11:3-4. Ali, o texto declara: "E disseram uns aos outros: Vinde, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume por cal. E disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo cume toque os céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra." Esta passagem é fundamental para entender o significado teológico do Tijolo como um símbolo da autossuficiência humana, da arrogância e da rebelião contra Deus.
1.1 O Tijolo como símbolo da rebelião e autossuficiência humana
Na história de Babel, o uso do Tijolo não é acidental. Ao escolher o Tijolo em vez da pedra natural, os construtores de Babel manifestaram sua intenção de depender de seus próprios recursos e habilidades. Eles criaram seu próprio material de construção, em vez de utilizar as pedras que Deus havia provido na natureza. Este ato simboliza uma rejeição sutil, mas profunda, da provisão e da ordem divina. A torre não era apenas um feito arquitetônico, mas um monumento à glória humana, uma tentativa de "tornar célebre o nosso nome" e de desafiar os limites impostos por Deus, que havia ordenado a dispersão da humanidade (Gênesis 9:1).
A escolha do Tijolo e do betume, um material inferior e menos durável que a pedra e a argamassa natural, reflete a fragilidade e a futilidade da ambição humana quando desvinculada da vontade divina. A construção com Tijolos de Babel é um protótipo de todas as tentativas humanas de construir um reino sem Deus, ou mesmo contra Ele. O resultado foi a confusão e a dispersão, um julgamento divino que demonstra a incapacidade de qualquer obra humana de prosperar quando erigida em oposição ao Criador.
1.2 O Tijolo no contexto da opressão e da escravidão
Outro contexto significativo para o Tijolo no Antigo Testamento é a escravidão israelita no Egito. Em Êxodo 1:14, lemos que os egípcios "amarguraram-lhes a vida com dura servidão, em amassar o barro e em fazer tijolos, e em todo o trabalho do campo; com todo o serviço em que os obrigavam, com tirania." E em Êxodo 5:7-8, o Faraó ordena: "Não dareis mais palha ao povo, para fazer tijolos, como dantes; eles mesmos que vão e ajuntem para si a palha. Contudo, exigireis deles a mesma quantidade de tijolos que faziam antes; nada diminuireis dela, porque eles são preguiçosos; por isso clamam, dizendo: Vamos e sacrifiquemos ao nosso Deus."
Aqui, o Tijolo se torna um símbolo da opressão, da servidão e do trabalho árduo imposto por uma autoridade tirânica. A fabricação de Tijolos representava a degradação e a desumanização do povo de Israel. A exigência de manter a produção de Tijolos sem o fornecimento de palha ilustra a crueldade do opressor e a impossibilidade de cumprir as exigências sem a ajuda divina. Neste cenário, o Tijolo não é um símbolo de rebelião autônoma, mas de uma servidão forçada que clama por libertação divina.
1.3 Contrastes e desenvolvimento progressivo da revelação
A partir desses exemplos, o Tijolo no Antigo Testamento manifesta-se como um material associado a projetos humanos falhos, à arrogância e à opressão. Ele contrasta fortemente com a "pedra", que frequentemente representa a estabilidade, a fidelidade de Deus e a fundação de Sua aliança. Por exemplo, as tábuas da Lei eram de pedra (Êxodo 31:18), altares eram construídos com pedras não lavradas (Êxodo 20:25), e Israel é chamado de "pedra de Israel" em Gênesis 49:24. Esta distinção prepara o terreno para a revelação do Novo Testamento, onde Cristo é a "pedra angular" (Salmos 118:22, citado em Mateus 21:42), em contraste com qualquer fundação construída por mãos humanas ou por materiais inferiores como o Tijolo.
O desenvolvimento progressivo da revelação mostra que, enquanto o Tijolo simboliza a tentativa humana de construir sua própria segurança e glória, Deus está construindo um reino eterno, não com Tijolos feitos por mãos, mas com materiais divinamente providos e, finalmente, com o próprio Cristo como fundamento.
2. O Tijolo no Novo Testamento e seu significado
No Novo Testamento, a palavra grega direta para Tijolo, plinthos (πλίνθος), é extremamente rara e não aparece em contextos teológicos significativos. Isso não significa, contudo, que o conceito associado ao Tijolo do Antigo Testamento esteja ausente. Pelo contrário, o Novo Testamento continua e aprofunda a distinção entre a construção humana e a divina, frequentemente utilizando a metáfora da "pedra" (lithos - λίθος) em contraste com qualquer material inferior ou obra humana.
A ausência de "Tijolo" como termo literal no NT não diminui sua relevância teológica. Em vez disso, o conceito é sublimado e transformado, aparecendo como um contraponto implícito à "pedra angular" que é Cristo e à "pedra viva" que são os crentes. O Novo Testamento se concentra na natureza espiritual da construção de Deus, um templo não feito de Tijolos ou pedras literais, mas de pessoas.
2.1 A transição da construção material para a espiritual
A teologia do Novo Testamento, especialmente na figura de Jesus e nos escritos apostólicos, marca uma transição do templo físico, construído com materiais como pedras e, em alguns casos, Tijolos (embora o Templo de Jerusalém fosse predominantemente de pedra), para um templo espiritual. Jesus mesmo profetiza a destruição do templo físico (Mateus 24:2) e fala de um templo "não feito por mãos humanas" (Marcos 14:58). Em Atos 7:48, Estêvão ecoa essa ideia, afirmando que "o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos humanas".
Esta perspectiva desvaloriza qualquer construção material, incluindo aquelas feitas com Tijolos, como o foco principal da presença de Deus. Em vez disso, Deus habita em Seu povo, a Igreja, que é o verdadeiro templo espiritual. Esta mudança de foco implica que qualquer tentativa de construir a fé, a salvação ou a comunidade cristã com "Tijolos" de rituais, tradições ou esforços humanos é vã e ineficaz.
2.2 Cristo como a pedra angular e o contraste com o Tijolo humano
A figura de Cristo como a "pedra angular" ou "pedra de esquina" (lithos akrogōniaios - λίθος ἀκρογωνιαῖος) é central no Novo Testamento e serve como o contraste mais vívido para o simbolismo do Tijolo. Em Efésios 2:20, Paulo afirma que os crentes são "edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina". Pedro, em 1 Pedro 2:4-8, desenvolve essa metáfora, descrevendo Cristo como a "pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa". Ele então exorta os crentes a serem "pedras vivas", edificados como casa espiritual, em contraste com aqueles que tropeçam na pedra que rejeitaram.
Nesse contexto, o Tijolo representa o que é artificial, inferior e feito por mãos humanas, que é rejeitado por Deus como fundamento. A "pedra" de Cristo é a única base sólida e divinamente aprovada. A continuidade entre AT e NT reside na persistente advertência contra a autossuficiência humana e a busca por glória própria, enquanto a descontinuidade se manifesta na revelação plena de Cristo como o único fundamento, transcendendo as construções físicas do Antigo Testamento.
2.3 O Tijolo e a futilidade da religiosidade humana
Os evangelhos e as epístolas frequentemente criticam a religiosidade superficial e as tradições humanas que se tornam um substituto para a verdadeira fé e obediência a Deus (Marcos 7:8). Essas "construções" de regras e observâncias externas, que não brotam de um coração transformado, podem ser vistas como os "Tijolos" de uma religião de obras, erigida pela autossuficiência humana. Jesus confronta os fariseus por seu legalismo, que era uma forma de construir uma justiça própria (Mateus 23), um edifício de Tijolos que não podia resistir ao escrutínio divino.
A literatura joanina, com sua ênfase na vida em Cristo e na habitação do Espírito, também reforça essa ideia. O templo espiritual, onde Deus é adorado "em espírito e em verdade" (João 4:24), não é construído com Tijolos, mas é uma realidade viva e dinâmica, formada pela união dos crentes com Cristo. Assim, mesmo sem mencionar o Tijolo explicitamente, o Novo Testamento ecoa e amplia o significado teológico do Tijolo como símbolo da construção humana falha e da futilidade de tudo o que não tem Cristo como fundamento.
3. O Tijolo na teologia paulina: a base da salvação
A teologia paulina, com sua ênfase na graça e na fé como meios de salvação, oferece um campo fértil para a compreensão do simbolismo do Tijolo. Embora Paulo não use a palavra "Tijolo", suas discussões sobre a justificação pela fé em contraste com as obras da Lei (Galatas 2:16) e a construção espiritual da Igreja (1 Coríntios 3:10-15) ressoam profundamente com as implicações teológicas do Tijolo como representação do esforço humano fútil.
Para Paulo, a salvação não é um edifício construído com os "Tijolos" das obras humanas, mas uma dádiva gratuita de Deus, recebida pela fé. Ele desmantela qualquer ideia de mérito humano, afirmando a total incapacidade do homem de se justificar diante de Deus por seus próprios meios. Os "Tijolos" da Lei, embora dados por Deus, não podiam conceder vida ou retidão, mas apenas expor o pecado (Romanos 3:20).
3.1 O Tijolo como obras da Lei e mérito humano
Nas epístolas aos Romanos e Gálatas, Paulo argumenta veementemente contra a tentativa de alcançar a justiça diante de Deus por meio da observância da Lei. Ele declara em Romanos 3:28: "Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da Lei." E em Gálatas 2:16: "Sabendo, contudo, que o homem não é justificado pelas obras da Lei, mas pela fé em Jesus Cristo, também nós cremos em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não pelas obras da Lei, visto que pelas obras da Lei nenhuma carne será justificada."
Aqui, os "Tijolos" representam as "obras da Lei" ou qualquer tentativa de estabelecer a própria justiça através do desempenho humano. A teologia reformada, seguindo Lutero e Calvino, sempre enfatizou que a salvação é sola gratia (somente pela graça) e sola fide (somente pela fé), rejeitando qualquer "tijolo" de mérito humano. Lutero, em sua luta contra as indulgências e a teologia das obras, redescobriu a verdade da justificação pela fé, demolindo o edifício de Tijolos que a Igreja Medieval havia tentado construir.
3.2 A construção espiritual de Deus e o contraste com o Tijolo
Paulo usa a metáfora da construção para descrever a Igreja, mas de uma maneira que contrasta com o simbolismo negativo do Tijolo. Em 1 Coríntios 3:10-11, ele escreve: "Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei eu como sábio construtor o fundamento, e outro edifica sobre ele. Mas veja cada um como edifica. Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo." O fundamento é Cristo, não os "Tijolos" de qualquer obra humana. Sobre esse fundamento, os crentes são chamados a edificar com materiais dignos: "ouro, prata, pedras preciosas", e não com "madeira, feno, palha" (1 Coríntios 3:12).
Os "Tijolos" da construção humana, feitos de materiais inferiores, seriam consumidos pelo fogo do julgamento divino. Isso implica que as obras feitas na carne, por mérito próprio, ou com motivações egoístas, são como Tijolos que não resistirão. Apenas as obras feitas em Cristo, pela graça e para a glória de Deus, são como "pedras preciosas" que permanecerão. Isso se aplica não apenas à justificação, mas também à santificação e à glorificação, que são processos guiados pelo Espírito Santo, não por esforços autônomos. A santificação não é um acúmulo de "Tijolos" de boas obras para merecer o favor de Deus, mas uma conformidade progressiva a Cristo, impulsionada pela gratidão e pelo poder do Espírito.
3.3 Implicações soteriológicas centrais
A teologia paulina, ao rejeitar o "Tijolo" como fundamento ou material de salvação, estabelece a verdade irrefutável de que a salvação é inteiramente uma obra de Deus (Efésios 2:8-9). Isso significa que não há espaço para a glória humana ou para a autossuficiência. O homem, por si mesmo, é incapaz de construir sua própria redenção. O Tijolo, nesse sentido, representa a falência de todo o esforço humano em alcançar a redenção. A justificação é um ato forense de Deus, que declara o pecador justo com base na obra perfeita de Cristo, não em qualquer "tijolo" de obediência à Lei. A santificação, embora envolva a cooperação humana, é primeiramente uma obra do Espírito Santo, que nos capacita a produzir frutos dignos (Filipenses 2:12-13).
Portanto, o simbolismo do Tijolo na teologia paulina reforça a doutrina da graça irresistível e da perseverança dos santos, pois a fundação é Cristo e a construção é divina, não dependendo da fragilidade dos "Tijolos" humanos. Spurgeon frequentemente pregava sobre a absoluta necessidade de Cristo e a inutilidade das obras, ecoando a crítica paulina a qualquer tentativa de construir a salvação com materiais inferiores.
4. Aspectos e tipos de Tijolo
Ao aprofundar a análise do Tijolo, podemos identificar diferentes "tipos" ou facetas metafóricas que ele representa, cada uma com implicações teológicas distintas. Essas manifestações do Tijolo servem para nos alertar sobre os perigos da autossuficiência e da confiança em algo que não seja a obra de Deus em Cristo.
A distinção entre a graça comum e a graça especial é relevante aqui. A graça comum de Deus permite que a humanidade crie e construa (como os Tijolos), mas essa capacidade, quando usada em rebelião ou para a glória própria, torna-se um símbolo de futilidade. A graça especial, salvadora, constrói com fundamentos e materiais divinos, totalmente distintos dos Tijolos humanos.
4.1 O Tijolo da rebelião e da autossuficiência
O primeiro e mais evidente "tipo" é o Tijolo da rebelião e da autossuficiência, exemplificado na Torre de Babel. Este Tijolo representa qualquer projeto humano que visa estabelecer glória, segurança ou poder à parte de Deus. Pode ser a busca por fama, riqueza, conhecimento ou qualquer outra ambição que se torne um deus substituto, construindo um "reino" que compete com o Reino de Deus. Este Tijolo é a manifestação da justiça própria, onde o indivíduo confia em suas próprias realizações e moralidade para se apresentar diante de um Deus santo, ignorando a necessidade da obra redentora de Cristo.
Este aspecto do Tijolo está intimamente ligado ao conceito de húbris (ὕβρις), a arrogância que leva à queda. Na teologia reformada, a doutrina da depravação total do homem implica que mesmo as melhores obras humanas, quando não realizadas pela fé em Cristo e para a glória de Deus, são "trapos de imundícia" (Isaías 64:6), incapazes de edificar qualquer coisa de valor eterno. Os Tijolos da autossuficiência são, portanto, um grave erro doutrinário, pois negam a soberania de Deus e a suficiência de Cristo.
4.2 O Tijolo da opressão e da servidão
O segundo "tipo" é o Tijolo da opressão e da servidão, visto na escravidão israelita no Egito. Este Tijolo simboliza as estruturas sociais, políticas ou religiosas que escravizam e exploram o ser humano, impondo fardos pesados e tirânicos. Pode representar sistemas legalistas que aprisionam a consciência, ou ideologias que desumanizam e subjugam as pessoas. No contexto teológico, isso se manifesta em doutrinas que colocam o homem sob o jugo de regras e rituais, em vez da liberdade encontrada em Cristo (Gálatas 5:1).
A teologia evangélica conservadora, embora enfatize a responsabilidade individual, também reconhece a existência de estruturas de pecado que oprimem. O Tijolo da opressão nos lembra que a verdadeira libertação vem de Deus, que resgatou Israel do Egito e que nos liberta do cativeiro do pecado e da Lei através de Cristo. Qualquer sistema que promova a servidão, seja ela física ou espiritual, está construindo com Tijolos de opressão.
4.3 O Tijolo da religiosidade vazia e da tradição humana
Um terceiro "tipo" de Tijolo pode ser identificado na religiosidade vazia e na tradição humana que substitui a Palavra de Deus. Jesus criticou os fariseus por invalidarem o mandamento de Deus por causa de suas tradições (Marcos 7:13). Essas tradições, embora possam parecer "boas obras" ou atos de piedade, se tornam Tijolos que obscurecem a verdade e impedem o acesso à graça genuína. O legalismo, o ritualismo e o formalismo religioso são exemplos de construção com esses Tijolos, que levam à justiça própria e à hipocrisia.
Os teólogos reformados, como João Calvino, sempre denunciaram as "invenções humanas" na adoração e na doutrina que desviam da simplicidade e pureza do evangelho. O Tijolo da tradição humana é um erro doutrinário porque eleva a autoridade humana acima da autoridade bíblica, minando a sola Scriptura. A fé salvadora é uma fé viva e pessoal em Cristo, não uma adesão cega a um conjunto de "Tijolos" de regras e costumes.
4.4 O Tijolo como contraste à pedra angular
Finalmente, o Tijolo serve como um contraste fundamental à Pedra Angular, que é Cristo. Enquanto o Tijolo é artificial, frágil e produzido pelo homem, a Pedra Angular é natural, sólida e divinamente estabelecida. Esta distinção é vital para a teologia sistemática reformada, que enfatiza a soberania de Deus em toda a obra de salvação. Qualquer tentativa de construir a Igreja ou a vida cristã sobre algo que não seja Cristo e Sua Palavra é construir com Tijolos, destinados à ruína. O teólogo D. Martyn Lloyd-Jones frequentemente advertia contra a superficialidade e a falta de profundidade doutrinária que levariam a "construções" frágeis na vida da igreja.
Os erros doutrinários a serem evitados, portanto, são todos aqueles que tentam construir a salvação ou a santificação com "Tijolos" de mérito humano: pelagianismo (salvação pelas obras), semi-pelagianismo (cooperação humana na salvação), arminianismo (ênfase na vontade livre humana para iniciar a fé), e qualquer forma de moralismo ou legalismo que coloque o peso da obediência perfeita sobre o crente sem o poder capacitador do Espírito Santo e a base da graça de Cristo.
5. O Tijolo e a vida prática do crente
A análise teológica do Tijolo não se restringe ao campo doutrinário; ela possui implicações profundas para a vida prática do crente e para a igreja contemporânea. Compreender o simbolismo do Tijolo nos ajuda a discernir a qualidade de nossa própria "construção espiritual" e a evitar os perigos da autossuficiência e da religiosidade vazia.
A vida cristã é, de fato, uma construção, mas não com os "Tijolos" da nossa própria força ou mérito. Pelo contrário, somos chamados a edificar sobre o fundamento que é Cristo, utilizando os "materiais" que o Espírito Santo nos provê. A responsabilidade pessoal do crente não é construir sua própria salvação, mas viver uma vida de obediência e serviço como resposta à graça recebida, edificando com "ouro, prata e pedras preciosas" (1 Coríntios 3:12), não com "madeira, feno e palha" – que podem ser comparados aos Tijolos da fragilidade e da futilidade.
5.1 Edificando com materiais divinos, não com Tijolos humanos
A aplicação prática do Tijolo na vida cristã começa com o reconhecimento da insuficiência de nossos próprios esforços. Devemos constantemente examinar a fundação de nossa fé. Estamos construindo nossa esperança de salvação sobre os "Tijolos" de nossa própria bondade, de nossa frequência à igreja, de nossas contribuições ou de nossa moralidade? Ou estamos edificando exclusivamente sobre a rocha inabalável que é Jesus Cristo e Sua obra consumada na cruz? A piedade genuína não é uma exibição de "Tijolos" de religiosidade, mas uma vida de dependência humilde de Deus, manifestada em amor, fé e obediência.
A adoração, por sua vez, deve ser "em espírito e em verdade" (João 4:24), não uma construção de rituais vazios ou de performances humanas. O serviço cristão, para ser aceitável a Deus, deve ser motivado pelo amor a Cristo e pelo poder do Espírito, não por um desejo de acumular "Tijolos" de mérito ou de ser reconhecido pelos homens. Como disse Calvino, toda a nossa vida deve ser um ato de adoração, mas essa adoração deve ser pura, sem a contaminação dos "Tijolos" da autoglorificação.
5.2 Implicações para a igreja contemporânea e exortações pastorais
Para a igreja contemporânea, o simbolismo do Tijolo serve como um alerta vital. Muitas igrejas hoje correm o risco de construir seus ministérios, programas e crescimento sobre "Tijolos" humanos: estratégias de marketing, personalidades carismáticas, entretenimento, ou filosofias mundanas de sucesso. Tais "construções" podem parecer impressionantes externamente, mas carecem de um fundamento sólido e de materiais divinos, sendo, em essência, tão frágeis quanto os Tijolos de Babel.
Pastoralmente, é crucial exortar os crentes e as lideranças a examinarem os "materiais" com os quais estão edificando. Estamos pregando a Cristo crucificado e ressuscitado como o único fundamento? Estamos ensinando a Palavra de Deus com fidelidade, ou estamos diluindo-a para agradar aos "construtores de Tijolos" que buscam uma mensagem mais palatável? Devemos sempre retornar à centralidade da Escritura e à suficiência de Cristo, rejeitando qualquer "Tijolo" que tente desviar a glória de Deus.
5.3 O equilíbrio entre doutrina e prática: o Tijolo e a graça
A doutrina do Tijolo, em contraste com a pedra angular, ajuda a manter o equilíbrio entre a doutrina da graça e a responsabilidade humana. A graça de Deus não nos isenta de edificar, mas nos capacita a edificar corretamente. Não construímos nossa salvação com Tijolos, mas, uma vez salvos pela graça, somos chamados a viver de uma maneira que reflita essa graça, produzindo boas obras que são os frutos do Espírito, não os Tijolos do esforço próprio (Efésios 2:10).
Lloyd-Jones, em suas pregações sobre a santificação, sempre enfatizou que a verdadeira santidade é um processo que envolve esforço e disciplina, mas que esse esforço é sempre uma resposta à graça de Deus e é capacitado pelo Espírito, não uma acumulação de "Tijolos" de mérito para ganhar o favor divino. O Tijolo, portanto, nos lembra da constante tentação de confiar em nós mesmos e de construir nossos próprios impérios, mas também nos aponta para a gloriosa verdade de que Deus é o Construtor e Cristo é o único Fundamento, sobre o qual podemos edificar vidas e igrejas que verdadeiramente glorificam a Ele.