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Significado de Vara

A Vara é um termo bíblico multifacetado, rico em simbolismo e significado teológico, que atravessa as narrativas, a legislação, a poesia e as profecias das Escrituras. Sob a perspectiva protestante evangélica, sua análise revela aspectos cruciais da natureza de Deus, da experiência humana e do plano divino de redenção. Longe de ser meramente um objeto físico, a Vara representa conceitos como autoridade, disciplina, proteção, julgamento e provisão, culminando em sua plena compreensão na pessoa e obra de Jesus Cristo.

Esta análise teológica profunda e abrangente buscará desdobrar o significado da Vara, desde suas raízes etimológicas e usos no Antigo Testamento até sua ressignificação e aplicação no Novo Testamento e na vida do crente. A ênfase será colocada na autoridade bíblica, na centralidade de Cristo e nos princípios da teologia reformada, destacando como este termo, à primeira vista simples, carrega implicações doutrinárias e práticas profundas para a fé evangélica.

1. Etimologia e raízes da Vara no Antigo Testamento

No Antigo Testamento, o termo Vara é traduzido principalmente de duas palavras hebraicas: shebet (שֵׁבֶט) e matteh (מַטֶּה). Embora frequentemente usadas de forma intercambiável, cada uma carrega nuances que enriquecem a compreensão do conceito.

Shebet (שֵׁבֶט) é a palavra mais comum e pode significar "vara", "cajado", "bengala", "cetro" ou até mesmo "tribo". Sua amplitude semântica permite que seja empregada em diversos contextos, abrangendo desde o instrumento de disciplina até o símbolo de autoridade real ou tribal. A ideia de correção e disciplina é proeminente com shebet, como visto em Provérbios 13:24, que afirma: "Quem retém a Vara odeia seu filho, mas quem o ama o disciplina com diligência."

Matteh (מַטֶּה), por sua vez, também significa "vara", "cajado" ou "bastão", mas frequentemente se associa a um objeto de apoio ou um instrumento para sinais e maravilhas. O cajado de Moisés, que se transforma em serpente e realiza milagres, é consistentemente chamado de matteh (Êxodo 4:2, 7:19). O cajado de Arão, que floresceu, é outro exemplo notável de matteh como instrumento de validação divina (Números 17:8).

1.1 Contextos do uso da Vara no Antigo Testamento

O uso da Vara no Antigo Testamento pode ser categorizado em várias dimensões, revelando um desenvolvimento progressivo da revelação divina através deste símbolo.

Primeiramente, a Vara é um instrumento de disciplina e correção. Nos livros sapienciais, especialmente em Provérbios, a Vara é apresentada como um meio legítimo e necessário para a educação e formação de filhos (Provérbios 22:15, 23:13-14). Esta disciplina, vista como um reflexo do amor paterno, é essencial para desviar a criança da insensatez e conduzi-la à sabedoria. A teologia reformada entende que esta disciplina é um paralelo terreno da disciplina amorosa de Deus para com seus filhos (Hebreus 12:6-7), que busca a santificação e o amadurecimento.

Em segundo lugar, a Vara serve como cajado de pastor, simbolizando proteção, guia e conforto. O mais célebre exemplo é encontrado em Salmos 23:4: "Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; a tua Vara e o teu cajado me consolam." Aqui, a Vara não é primariamente para punição, mas para afastar predadores, guiar o rebanho por caminhos seguros e oferecer segurança ao ovelha. Para o crente, representa a providência e o cuidado constante de Deus, o Pastor supremo, em meio às adversidades da vida.

Terceiro, a Vara é um poderoso símbolo de autoridade, poder e soberania. O cetro de um rei, um bastão adornado, era uma Vara que representava seu domínio e poder sobre o reino. Gênesis 49:10 profetiza que "o cetro não se arredará de Judá, nem a Vara de comando dentre os seus pés, até que venha Siló." Esta profecia aponta para a linhagem real de Judá, da qual viria o Messias, o Rei supremo, cujo domínio seria eterno. A Vara de Moisés e Arão também demonstrava a autoridade delegada por Deus, operando milagres e julgamentos divinos, validando sua liderança e as mensagens que transmitiam.

Finalmente, a Vara também é um instrumento de juízo e punição divina. Em Isaías 10:5, Deus se refere à Assíria como a "Vara da minha ira", usando-a como um instrumento para punir Israel por seus pecados. Este uso mostra que Deus, em sua soberania, pode usar nações ou eventos como sua Vara para executar seu juízo sobre a impiedade. No entanto, o texto também adverte que a Vara será quebrada após cumprir seu propósito, indicando que o instrumento do juízo também será julgado.

1.2 Desenvolvimento progressivo da revelação

O conceito da Vara no Antigo Testamento demonstra uma revelação progressiva da natureza de Deus. Começa como um objeto prático, mas rapidamente se eleva a um símbolo de atributos divinos. Da disciplina paterna à autoridade real, da proteção pastoral ao juízo soberano, a Vara aponta para um Deus que é tanto amoroso e cuidadoso quanto justo e todo-poderoso. A esperança messiânica de um Rei com um cetro de justiça prepara o terreno para a compreensão da Vara no Novo Testamento, particularmente em relação a Cristo.

2. Vara no Novo Testamento e seu significado

No Novo Testamento, a palavra grega mais comum para Vara é rhabdos (ῥάβδος), que corresponde diretamente às palavras hebraicas shebet e matteh. Outra palavra relevante, embora menos frequente, é skeptron (σκήπτρον), que se refere especificamente a um cetro, um bastão de autoridade real.

O significado literal de rhabdos é "vara", "cajado" ou "bastão". Teologicamente, assim como no Antigo Testamento, ela mantém as conotações de disciplina, orientação, autoridade e julgamento, mas agora é profundamente ressignificada e cumprida na pessoa e obra de Jesus Cristo.

2.1 Uso nos evangelhos, epístolas e literatura joanina

Nos Evangelhos, a Vara é mencionada em contextos práticos e simbólicos. Jesus instrui seus discípulos a não levarem Vara (rhabdos) em suas missões, exceto em Marcos 6:8, onde permite um cajado. Essa aparente discrepância pode indicar a urgência da missão e a dependência total da provisão divina, ou talvez que a Vara era um item básico para a viagem, não um luxo. Mais importante, Jesus mesmo exerce a autoridade divina que a Vara simboliza, sem precisar de um objeto físico para validá-la.

Nas epístolas, Paulo usa a Vara (rhabdos) em um contexto de disciplina e autoridade apostólica. Em 1 Coríntios 4:21, ele pergunta à igreja de Corinto: "Que quereis? Irei a vós com Vara ou com amor e espírito de mansidão?" Aqui, a Vara é uma metáfora para a disciplina eclesiástica, a correção que um pai espiritual impõe a seus filhos espirituais. É uma expressão da autoridade que lhe foi concedida por Cristo para edificar a igreja, não para destruí-la (2 Coríntios 10:8).

A literatura joanina, especialmente o livro do Apocalipse, eleva o simbolismo da Vara a um nível escatológico e cristológico. Jesus Cristo é repetidamente descrito como aquele que governará as nações com uma "Vara de ferro" (Apocalipse 2:27, 12:5, 19:15). Esta imagem é uma clara referência a Salmos 2:9: "Tu os quebrarás com uma Vara de ferro; como a um vaso de oleiro os farás em pedaços." A Vara de ferro de Cristo simboliza seu domínio soberano e irrefutável sobre toda a criação, sua justiça perfeita e seu poder para executar juízo final sobre os ímpios e estabelecer seu Reino eterno.

2.2 Relação específica com a pessoa e obra de Cristo

A Vara, no Novo Testamento, encontra sua plenitude e significado último em Jesus Cristo. Ele é o verdadeiro Pastor que guia e protege seu rebanho com sua Vara, não apenas um objeto físico, mas sua própria presença e Palavra (João 10:11, Hebreus 13:20). Ele é o Rei prometido da linhagem de Judá, cujo cetro de autoridade é sua própria divindade e senhorio sobre todas as coisas.

A Vara de disciplina, que no Antigo Testamento era um instrumento de pais e de Deus para Israel, encontra sua expressão na disciplina que Cristo exerce sobre sua Igreja para santificação (Hebreus 12:6-11). E a Vara de juízo, que Deus usava contra as nações, agora é empunhada por Cristo, o Juiz justo, que julgará vivos e mortos (João 5:22, Atos 17:31).

2.3 Continuidade e descontinuidade entre AT e NT

Há uma clara continuidade no simbolismo da Vara entre o Antigo e o Novo Testamento. Os temas de autoridade, disciplina, proteção e juízo permanecem. A Vara continua a ser um símbolo da soberania divina e do cuidado providencial de Deus.

No entanto, há também uma descontinuidade fundamental na forma como esses temas são cumpridos e compreendidos. No Antigo Testamento, a Vara era frequentemente um objeto físico ou uma metáfora para a ação de Deus através de agentes humanos ou eventos. No Novo Testamento, a Vara é intrínseca à pessoa de Cristo. Ele não apenas usa a Vara; Ele é a manifestação final e perfeita de toda a autoridade, disciplina, proteção e juízo que a Vara simbolizava. A Vara de ferro, em particular, aponta para a consumação do Reino de Deus sob o domínio soberano de Cristo, o que era apenas uma promessa e um vislumbre no Antigo Testamento.

3. Vara na teologia paulina: a base da salvação

A Vara, como termo direto, não é um conceito central na formulação explícita da doutrina da salvação (ordo salutis) nas cartas paulinas da mesma forma que "graça", "fé" ou "justificação". No entanto, os princípios teológicos subjacentes à Vara – autoridade, disciplina, soberania e juízo – são absolutamente fundamentais para a compreensão paulina da salvação, embora muitas vezes expressos com outras terminologias.

3.1 Como o termo funciona na doutrina da salvação

Embora Paulo não use a palavra Vara diretamente para descrever a justificação pela fé, a realidade da autoridade e do juízo divino (que a Vara simboliza) é o pano de fundo indispensável para entender a necessidade da salvação. A humanidade está sob a Vara do juízo de Deus por causa do pecado (Romanos 1:18-3:20). A Lei, com suas exigências e condenação, atua como uma Vara de acusação, revelando o pecado e a incapacidade humana de alcançar a justiça por obras (Romanos 3:20, Gálatas 3:24).

Nesse cenário de condenação, a Vara da ira divina é desviada de nós por meio da obra propiciatória de Cristo na cruz. A justificação pela fé em Cristo significa que somos declarados justos não por mérito próprio, mas pela justiça de Cristo imputada a nós, escapando assim da Vara do juízo que nos era devida (Romanos 5:9). A soberania de Deus (a Vara de seu governo) é quem estabeleceu este plano de salvação desde a eternidade, escolhendo aqueles que seriam salvos pela sua graça (Efésios 1:4-5).

No processo de santificação, a Vara assume a forma da disciplina amorosa de Deus para seus filhos. Paulo, em 1 Coríntios 4:21, usa a metáfora da Vara para a correção pastoral, que visa o crescimento e a purificação da igreja. Esta disciplina, conforme a teologia reformada, é um sinal da filiação, não da condenação, e é um meio pelo qual Deus nos conforma à imagem de Cristo (Romanos 8:29). A disciplina divina é uma Vara que nos conduz à obediência e à maturidade espiritual, como pais corrigem seus filhos para o bem deles. John Calvin, em suas Institutas, enfatiza a disciplina como um dos "sinais" da verdadeira igreja, essencial para a manutenção da pureza doutrinária e moral.

3.2 Contraste com obras da Lei e mérito humano

A mensagem paulina da salvação pela graça mediante a fé (sola gratia, sola fide) contrasta radicalmente com qualquer tentativa de satisfazer a Vara do juízo divino por meio de obras da Lei ou mérito humano. Nenhuma quantidade de boas obras pode anular a condenação que a Vara da justiça de Deus exige do pecador.

Paulo argumenta que a Lei (a Vara de exigência divina) não foi dada para justificar, mas para revelar o pecado e a necessidade de um Salvador (Gálatas 3:24). A salvação, portanto, não é um resultado de evitar a Vara da disciplina através do esforço próprio, mas de ser resgatado da Vara do juízo final pela obra substitutiva de Cristo. Martin Luther, em sua luta contra as indulgências, ressaltou que a justiça de Deus não é aplacada por mérito humano, mas somente pela fé no sacrifício de Cristo.

3.3 Relação com justificação, santificação e glorificação

A Vara, em seu sentido de autoridade e juízo, estabelece a necessidade da justificação. Sem a justiça de Cristo, a Vara do juízo divino recairia sobre nós. A justificação nos livra da condenação final que a Vara de ferro de Cristo executará sobre os ímpios.

Na santificação, a Vara se manifesta como a disciplina amorosa de Deus. É através dessa "Vara" que Deus nos poda, nos corrige e nos guia para a conformidade com Cristo. É um processo contínuo de purificação e crescimento na fé, onde o crente, como um filho amado, submete-se à correção do Pai (Hebreus 12:5-11).

Finalmente, na glorificação, a Vara de Cristo assume seu pleno significado escatológico. Cristo, o Rei com a Vara de ferro, retornará para consumar seu reino, julgar os vivos e os mortos e estabelecer uma nova criação. Aqueles que foram justificados e santificados pela graça de Deus serão glorificados, livres de toda condenação e sob a proteção eterna da Vara do bom Pastor, que agora é também o Rei soberano (Romanos 8:30, Apocalipse 21:3-4). A Vara de juízo para os ímpios é a Vara de proteção e glória para os salvos.

4. Aspectos e tipos de Vara

A riqueza semântica e teológica da Vara permite discernir diferentes manifestações e facetas, cada uma revelando um aspecto da natureza e da ação de Deus. A teologia reformada, com sua ênfase na soberania divina e na providência, encontra na Vara um símbolo potente para diversas doutrinas.

4.1 Diferentes manifestações ou facetas da Vara

Podemos identificar pelo menos cinco principais manifestações da Vara:

    1. A Vara de disciplina e correção: Esta é a faceta mais explícita nos livros sapienciais (Provérbios 13:24) e nas epístolas (1 Coríntios 4:21, Hebreus 12:6). Ela representa a correção divina e parental, que visa o bem-estar e a santificação do indivíduo. A disciplina de Deus é sempre restauradora para o crente, não punitiva no sentido de condenação final.
    1. A Vara de pastor, guia e conforto: Simboliza o cuidado providencial de Deus sobre seu povo (Salmos 23:4). O cajado do pastor é usado para contar, guiar e resgatar as ovelhas, bem como para defendê-las de perigos. É uma imagem poderosa do cuidado e da segurança que Cristo, o Bom Pastor, oferece aos seus.
    1. A Vara de autoridade, poder e soberania: Representada pelo cetro real (Gênesis 49:10) e pelo cajado de Moisés (Êxodo 4:2). Ela denota o direito divino de governar, legislar e exercer poder sobre a criação. Em Cristo, esta autoridade é plena e universal (Mateus 28:18).
    1. A Vara de juízo e julgamento: Usada por Deus para punir a impiedade, seja através de nações (Isaías 10:5) ou diretamente. No Novo Testamento, esta faceta é proeminentemente associada à Vara de ferro de Cristo, que esmagará os inimigos de Deus (Apocalipse 19:15). É a manifestação da justiça divina contra o pecado.
    1. A Vara de milagres e provisão: O cajado de Moisés é o exemplo primordial (Êxodo 4:2, 7:19). Através dela, Deus operou sinais e maravilhas, demonstrando seu poder e provendo para seu povo. Simboliza a capacidade de Deus de intervir sobrenaturalmente na história e na vida dos indivíduos.

4.2 Distinções teológicas relevantes

É crucial distinguir a Vara como um instrumento humano da Vara como um símbolo da ação divina. Enquanto a primeira é um objeto físico, a segunda representa atributos e ações de Deus. Além disso, a aplicação da Vara difere para o crente e para o ímpio. Para o crente, a Vara de disciplina é um sinal de amor e filiação (Hebreus 12:7-8), visando a santificação. Para o ímpio, a Vara de juízo é um instrumento de condenação e retribuição.

A teologia reformada enfatiza que toda manifestação da Vara está sob a soberania e providência de Deus. A disciplina, a proteção, a autoridade e o juízo são expressões do controle ativo de Deus sobre todas as coisas. A Vara de Cristo, o Rei e Juiz, é a garantia de que a justiça prevalecerá e que o Reino de Deus será estabelecido plenamente. Teólogos como Jonathan Edwards destacaram a "soberania terrível" de Deus, onde a Vara de juízo é uma realidade inescapável para o pecador não arrependido.

4.3 Erros doutrinários a serem evitados

A má compreensão da Vara pode levar a erros doutrinários significativos:

    1. Legalismo: Achar que a disciplina (a Vara) é um meio de ganhar favor ou salvação, em vez de um resultado da graça na vida do salvo. Isso obscurece a doutrina da sola gratia e sola fide.
    1. Antinomianismo: Rejeitar a necessidade de disciplina e correção na vida do crente, sob o pretexto de estar "sob a graça". Isso subestima o papel da santificação e a seriedade do pecado, ignorando a Vara de correção que Deus aplica a seus filhos.
    1. Desespero ou medo injustificado: Interpretar a Vara de Deus sempre como punição, sem compreender o aspecto de conforto e proteção para o crente. Embora Deus seja justo, para aqueles em Cristo, sua Vara é de guia e não de condenação.
    1. Abuso de autoridade: Usar a "Vara" da autoridade eclesiástica de forma tirânica ou não bíblica, desvirtuando o propósito da disciplina que é a restauração e edificação.

5. Vara e a vida prática do crente

A compreensão teológica da Vara tem implicações profundas e práticas para a vida do crente, moldando sua piedade, adoração, serviço e relacionamento com Deus e com o próximo. A perspectiva protestante evangélica conservadora enfatiza a aplicação da doutrina à vida diária.

5.1 Aplicação prática da Vara na vida cristã

Em primeiro lugar, a Vara nos ensina a submissão à disciplina divina. O crente deve aceitar a correção de Deus como um sinal de seu amor e filiação (Hebreus 12:5-11). Isso envolve humildade, arrependimento e uma disposição para aprender e crescer através das provações e repreensões que Deus permite em sua vida. A disciplina de Deus, embora dolorosa no momento, produz um fruto de justiça e paz.

Em segundo lugar, a Vara do Pastor nos convida à confiança e ao conforto na providência de Cristo. Saber que a Vara de Jesus, o Bom Pastor, está sempre presente para guiar, proteger e consolar nos momentos de dificuldade (Salmos 23:4) traz paz e segurança. Isso nos encoraja a descansar em sua soberania e a confiar que Ele nos conduzirá por vales escuros e pastos verdejantes.

Terceiro, a Vara de autoridade e juízo de Cristo nos chama à reverência e obediência. Reconhecer que Jesus detém toda a autoridade (Mateus 28:18) e que Ele julgará vivos e mortos (Apocalipse 19:15) deve nos impulsionar a viver uma vida de santidade e obediência à sua Palavra. O temor do Senhor, que é o princípio da sabedoria, é uma resposta apropriada à soberania da Vara de Cristo.

Quarto, a Vara, no contexto da disciplina parental, orienta os pais cristãos a educar seus filhos com amor e firmeza (Provérbios 22:15). A disciplina bíblica não é abusiva, mas visa moldar o caráter, ensinar o respeito e conduzir os filhos no caminho da retidão. Spurgeon frequentemente pregava sobre a importância da educação cristã e da disciplina amorosa no lar.

5.2 Relação com responsabilidade pessoal e obediência

A Vara de disciplina de Deus não anula a responsabilidade pessoal do crente, mas a intensifica. A disciplina divina é uma resposta à desobediência e um chamado ao arrependimento. O crente é chamado a responder ativamente à correção de Deus, buscando a santidade e a obediência em todas as áreas da vida (1 Pedro 1:15-16). A graça não é uma licença para pecar, mas um poder para viver em obediência. A Vara da correção, portanto, é um instrumento da graça para nos levar à conformidade com Cristo.

5.3 Como o termo molda piedade, adoração e serviço

A compreensão da Vara molda profundamente a piedade do crente, gerando um coração humilde e submisso à vontade de Deus. Uma piedade autêntica reconhece a soberania de Cristo e a necessidade de sua disciplina para o crescimento espiritual. Isso leva a uma dependência mais profunda da graça de Deus e a uma busca contínua pela santidade.

Na adoração, a Vara nos leva a adorar a Cristo como o Rei soberano, cujo cetro de justiça governa o universo. A adoração se torna um reconhecimento de sua autoridade e um louvor por sua providência e cuidado pastoral. Adoramos Aquele que nos guia com sua Vara e que um dia virá com a Vara de ferro para estabelecer seu reino eterno.

No serviço, a Vara nos impele a servir com diligência e fidelidade, sabendo que somos mordomos sob a autoridade do Rei. O serviço cristão é uma resposta à graça de Deus e um reconhecimento de que Ele nos chamou e nos capacitou. A disciplina que recebemos nos capacita a servir com maior sabedoria e humildade, e a autoridade que possuímos (seja parental, eclesiástica ou em outras esferas) deve ser exercida com a mansidão e o propósito restaurador da Vara do Bom Pastor.

5.4 Implicações para a igreja contemporânea

Para a igreja contemporânea, a doutrina da Vara ressalta a importância da disciplina eclesiástica (1 Coríntios 5:1-13). Uma igreja saudável, conforme a teologia reformada, não negligencia a disciplina, mas a exerce com amor e discernimento, buscando a restauração do pecador e a pureza do corpo de Cristo. Essa disciplina é uma manifestação da Vara de correção que o Senhor usa para edificar sua igreja. Lloyd-Jones, por exemplo, frequentemente lamentava a falta de disciplina eclesiástica nas igrejas modernas, vendo-a como um sinal de fraqueza e mundanismo.

Além disso, a Vara nos lembra da soberania de Cristo em um mundo que frequentemente rejeita qualquer forma de autoridade divina. A igreja deve proclamar corajosamente o senhorio de Cristo, o Rei que governará com Vara de ferro, e convidar as pessoas ao arrependimento e à submissão ao seu domínio amoroso antes que a Vara de juízo final seja empunhada.

5.5 Exortações pastorais baseadas na Vara

Pastoralmente, exortamos os crentes a:

    1. Não desprezar a disciplina do Senhor (Hebreus 12:5): Encarem as provações e correções como evidências do amor de Deus e oportunidades para o crescimento.
    1. Confiar no cuidado do Bom Pastor (Salmos 23:4): Encontrem conforto e segurança na presença constante de Cristo, que os guia e protege com sua Vara.
    1. Submeter-se à autoridade de Cristo (Mateus 28:18): Vivam em obediência à sua Palavra e em antecipação de seu retorno, quando Ele governará plenamente.
    1. Exercer a disciplina com amor (1 Coríntios 4:21): Pais, líderes eclesiásticos e crentes em geral devem aplicar a correção com o objetivo de restauração e edificação, não de destruição.

5.6 Equilíbrio entre doutrina e prática

A análise da Vara ilustra o equilíbrio essencial entre doutrina e prática na fé evangélica. A sólida doutrina da soberania de Deus, da autoridade de Cristo, da disciplina divina e do juízo final não é meramente para o intelecto, mas para transformar a vida do crente. A Vara, em suas diversas manifestações, é um lembrete constante da necessidade de viver em piedade, adoração e serviço, sob o olhar atento e amoroso do nosso Deus soberano, que nos guia com sua Vara e seu cajado.